Na semana que passou, o Comitê Olímpico Internacional (COI) e o Comitê Rio-2016 reforçaram o pedido para que torcedores brasileiros respeitem o silêncio em competições que, tradicionalmente, exigem concentração e foco – casos do tênis, do tiro e da esgrima, por exemplo.
Num processo de futebolização das torcidas, as vaias e os gritos com motivação diversa – geralmente para atrapalhar o adversário do favorito do público ou até para externar posições políticas – são os mesmos dos estádios, zoeira que gera queixas até mesmo de brasileiros. Embora haja aqueles que veem nas manifestações barulhentas uma expressão típica da brasilidade, o COI as considera um problema: as reações ao pedido de moderação foram muito agressivas. Torcedores mais estúpidos sugeriram que os atletas incomodados se retirem do Rio de Janeiro.
Algumas considerações. Primeiro, vaias não combinam com o fair play que rege o espírito olímpico, longe disso. Outro fato a ser levado em conta é que, mesmo estando em casa, não precisamos obrigar os atletas a clima de feira-livre. Um terceiro item a ser considerado é o de que, como ocorre em concertos e recitais, nem sempre os aplausos ou outras manifestações são bem-vindos. Em quarto, a hospitalidade inclui não hostilizar quem quer que seja. Por último, mas não menos importante, seria bom diferenciar alegria de muvuca.
Embora se faça até questão de reafirmar sempre a imagem do bola-bunda-bagunça e, embora a informalidade e os gritos sejam de fato características tão nacionais quanto a bermuda e o chinelão, a gente bem podia maneirar. Respeitar o silêncio não significa descaracterizar nossa gente, muito menos demonstrar subserviência. Somos uma nação muito jovem, um dos últimos lugares da Terra a conhecer a civilização, e é da vida que precisamos evoluir. É precioso aprender o mecanismo de cada esporte, a fazer silêncio em qualquer tipo de plateia, a conviver com hábitos que são diferentes dos nossos e, sobretudo, que o direito da gente termina quando começa o do outro.