Atraído pela perspectiva de uma nova fonte de arrecadação, o governo do presidente interino Michel Temer posicionou-se favoravelmente à aprovação de projeto do senador Ciro Nogueira (PP-PI) que legaliza os chamados jogos de azar no país. Por mais que haja justificativas consistentes entre quem se posiciona de um lado e de outro em relação à proposta, a grande questão é exatamente esta: a dificuldade de garantir uma fiscalização eficiente. Hoje, concorrendo com as loterias controladas pela Caixa Econômica Federal, jogos clandestinos movimentam milhões e não contribuem para a arrecadação, para o turismo e para a geração de empregos formais como ocorre em muitos países desenvolvidos.
Os defensores da proposta justificam que a legalização aumentaria a arrecadação de impostos, além de gerar empregos e desenvolver o turismo. Os opositores afirmam que liberar o jogo é abrir uma porta para a lavagem de dinheiro e para os chamados crimes conexos, entre os quais a sonegação e o suborno de fiscais. O simples fato de o autor da proposta já estar sendo investigado pela Lava-Jato mostra que uma eventual aprovação da medida tem potencial para contaminar ainda mais a política, pois pode servir até mesmo para financiar campanhas eleitorais.
É ingenuidade imaginar que, a partir da legalização, os ganhos dos jogos de azar, historicamente associados à clandestinidade, passem a ser transparentes, contribuindo até para o ajuste fiscal. O país faria melhor se, em vez de se submeter a lobbies escusos, optasse por apostar suas fichas não na jogatina, mas no setor produtivo e no seu potencial para gerar renda, impostos e empregos.