No recente episódio de desocupação do Palácio Farroupilha e do acordo firmado na Justiça com as lideranças estudantis, a Assembleia Legislativa cumpriu um relevante papel mediador, com permanente disposição para o diálogo e a negociação, mesmo nos momentos mais tensos. Legislar e fiscalizar são as missões primordiais de um parlamento e, sem nos afastarmos desses mandatos, a atual conjuntura tem imposto aos deputados gaúchos novos desafios e necessidade de respostas compatíveis e responsáveis diante da realidade que se apresenta.
Nesse contexto, é preciso ir ao encontro da sociedade gaúcha, que acompanha com apreensão as variadas formas de manifestação, representativas de segmentos profissionais ou agrupamentos bem identificados politicamente, com reivindicações que vão desde melhorias salariais até as que se posicionam contra ou a favor de políticas públicas, ou, radicalizando, contra ou a favor dos poderes constituídos. Tais manifestações são da essência dos regimes democráticos e, se estão potencializadas neste momento, é porque certamente é o resultado de um longo e necessário aprendizado de cidadania. Representa expressão de uma conquista e não um retrocesso.
O que está em desacordo com essa conquista e fere os princípios democráticos que asseguram a livre manifestação são aquelas mobilizações que desandam em desordem e violência, acobertando vândalos que depredam o patrimônio público e privado, e mais contribuem negativamente do que ajudam as causas defendidas, a maioria delas justas e meritórias. Jogam contra, também, os movimentos que descumprem as ordens judiciais. Diálogo pressupõe uma via de mão dupla, exige aceitação e reciprocidade.
Apesar da dificuldade de identificar quem representa quem, num sistema de liderança cada vez mais horizontalizado em determinados segmentos, cabe a todos nós, especialmente aos legisladores, esgotar integralmente as possibilidades de negociação. O parlamento do RS, sob a minha presidência, vai radicalizar, mas no sentido de buscar o diálogo sempre e construir pontes e não muros, como bem exorta o papa Francisco.