Alguns preferem viver no mundo da ficção. É uma escolha como tantas outras. Contudo, essa escolha pode ganhar contornos grotescos quando se torna um instrumento de manipulação da opinião pública.
Menos ainda justificada quando é transmitida por intelectuais, artistas e professores universitários que, por princípio, deveriam se apegar à verdade, ao exercício da dúvida e ao abandono da miopia ideológica.
Tomemos o caso de que haveria um "golpe" em curso no Brasil. Seria hilário se não tivesse repercussão junto a alguns (desin)formadores de opinião.
A presidente circula livremente pelo país, com gastos pagos pelo contribuinte. Sim, você está pagando as viagens presidenciais para que Dilma Rousseff continue com seus discursos desconexos por diferentes regiões do país!
Desfruta do Palácio da Alvorada com todas as suas mordomias. Tem um avião da FAB à disposição para seus deslocamentos, agora aparentemente restritos à sua residência em Porto Alegre. Tem proteção da Guarda Presidencial, batalhão do Exército.
Belo golpe, com proteção das Forças Armadas! Alguém já viu no mundo um caso assim? Poderia dar manchete: "Presidente deposta com proteção militar e mordomias palacianas!".
Os governos petistas, de Lula a Dilma, nomearam a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Estes definiram os ritos do impeachment. Tudo conforme a Constituição e a legalidade. De que reclamam os petistas? Dos ministros por eles nomeados? Aliás, quando da aprovação desse rito, esses mesmos petistas comemoraram! A Constituição só é respeitada quando lhes convém?
A ainda presidente Dilma perdeu fragorosamente na Câmara dos Deputados, não sendo seguida por sua base de apoio. Nem uma minoria desta que poderia ter-lhe assegurado o mandato. São os mesmos partidos que a apoiaram desde a sua primeira eleição, além de terem sido igualmente aliados do ex-presidente Lula. Eram "bons" e agora são "maus"?
Se a presidente pretende ser absolvida do processo de impeachment, basta recuperar alguns poucos votos para que nova maioria agrupada em torno do presidente Michel Temer não alcance 54 votos. Será que nem isto ela consegue?
A narrativa ficcional do golpe nada mais é do que um instrumento para influenciar a base eleitoral desses senadores.
Golpe curioso este que dá ampla liberdade de ação à presidente Dilma, ao ex-presidente Lula, ao PT e aos seus títeres movimentos sociais para proclamarem suas bobagens país afora.
Haja paciência para tanto disparate!