O prosseguimento da Lava-Jato e as recentes gravações de Sergio Machado com os senadores Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney mostram um alto grau de comprometimento da classe política com malversação de dinheiro público e obstrução da Justiça. Essas podem ser resumidas como consequências do patrimonialismo político desse tipo de elite, que se perpetua no poder pela apropriação privada dos fundos públicos. Trata-se de uma elite retrógrada que é, sem dúvida, um poderoso fator do atraso político brasileiro. Por outro lado, a publicização dessas delações, a sua enorme repercussão pública e, sobretudo, o medo desses agentes políticos dos juízes, promotores e policiais da Lava-Jato exibem um grande amadurecimento das instituições democráticas de nosso país. Essas instituições estão fortes, enquanto a classe política expõe toda a sua falta de espírito público.
Não deixam de ser impressionantes os resultados da operação Lava-Jato. A cúpula petista está ou esteve na prisão. Dirigentes já foram condenados e outros estão na fila. Nem o ex-presidente Lula se salvará. A promessa petista de ética na política revelou-se um mero engodo. Esta que seria uma nova classe política mostrou não apenas ser uma repetição do mesmo, mas uma face piorada desta. Muitos dos ministros da ainda formalmente presidente Dilma estão sendo implicados pela Lava-Jato e começam a ser objetos de investigação. Agora, o PMDB começa, por sua vez, a ser ainda mais implicado, com a suspensão do mandato do deputado Eduardo Cunha, com os inquéritos do senador Renan Calheiros, com as investigações sobre o senador Romero Jucá e assim por diante. O PSDB também poderá vir a ser comprometido. Os partidos menores muitas vezes nada mais são do que agremiações de aluguel.
Estabelece-se aqui uma clivagem entre a sociedade e a classe política, com a primeira apoiando fortemente a operação Lava-Jato. Na verdade, esta não teria condições de ser bem sucedida se não contasse com esse imenso apoio social. O país se modernizou socialmente. Goza de uma ampla liberdade de expressão, com jornais independentes, investigativos e de opinião, em linhas gerais em defesa do avanço da democracia. Todo esse processo que levou ao impeachment é precisamente fruto de uma sociedade civil atuante que se manifestou – e se manifesta – claramente contra a corrupção. Exibe como bandeira própria a moralidade pública.
Cabe ao novo governo responder a esse anseio sob pena de repetir mais do mesmo.