A tempestade que assolou Porto Alegre não foi obra humana, como ocorreu nas tragédias da boate Kiss e das barragens de minérios. Por isto, culpar pelo vendaval o prefeito Fortunati ou o governador Sartori seria o mesmo que acusar Thomas Edison pela falta de eletricidade em nossas casas ou pelo poste caído na rua.
Tão devastadores, porém, foram os ventos e a chuva, que parecia, até, que aqueles furacões brutais do Mar Caribe tinham vindo para cá na bagagem de Sartori, que horas antes chegara de lá, em férias. E que, para sanar o infortúnio, Fortunati tenha viajado (em férias) aos Estados Unidos, minutos antes, para reclamar e devolver o que viera de lá.
Não tento fazer humor com o tornado de dias atrás, mas a ironia dos fatos está aí, à vista, como se tudo fosse combinado para deixar a fúria do vento à solta. Um veio, outro se foi! As férias de Sartori terminaram ao se armar a tormenta. As de Fortunati começaram pouco antes. E tudo no Caribe.
Enfim, o Carnaval...
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Nos últimos anos, nossos governantes passaram a usufruir de férias encantadoras, longe das agruras municipais e estaduais.
Tarso Genro passou férias também no Caribe, no mar azul de Cuba, quando tudo amarelava aqui, numa seca atroz. O governo de Yeda foi tão invisível que não soubemos sequer onde ela esteve de férias. Antes, Rigotto escondeu o lugar de descanso. E o segredo continuaria secreto se eu, casualmente, não o visse desembarcar de um luxuoso transatlântico em Búzios (onde moro, também casualmente), em pleno cruzeiro marítimo pela costa norte do Brasil.
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Sou do remoto tempo em que as férias de governador significavam, apenas, transferir o gabinete para Canela. Do Palácio das Hortênsias (então um simples casarão de madeira), Brizola continuava a governar, tão presente quanto no Piratini. Fugia do calor, não das responsabilidades. Era governador 24 horas ao dia, todos os dias. Com três filhos pequenos, morava nos fundos do Piratini e trabalhava noite adentro.
Muito depois, já quando passou a ser "chic" ir de férias a Punta, Angra, Búzios ou ao Caribe, Antônio Britto preferiu a brisa de Torres e alugou a casa (ampla e de bom gosto) do psicanalista Ellis Busnello, junto ao mar. Permaneceu no Estado, à mão e sem sumir. E o austero Olívio nem saiu da Capital.
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O descanso é necessário, mas poderão os responsáveis pela vida do povo ter férias de pernas ao ar, festejando o ócio? Prefeito, governador e presidente (ou senador, deputado e vereador) não têm empregos de carteira assinada, regidos pela CLT, mas um mandato que nós, eleitores, lhes concedemos.
Nos momentos difíceis é que necessitamos deles. O ramo político-sociológico ao qual me filio entende que "o melhor governo é o que menos governa". Ou seja: a sociedade deve estar tão organizada e ser tão responsável em si mesma, que prescinda das "ordens de cima".
Mas a capital do Estado nunca sofreu uma devastação como agora e, aí sim, precisaríamos de urgentes "ordens de cima". No entanto, nos burocráticos órgãos de "estratégia" e "defesa civil" estaduais e municipais, sobram carimbos, papel timbrado e "cargos em comissão". Faltam planejamento, técnicas e seriedade.
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Podia ter sido pior? Sim, e o vice-prefeito Melo, que é de Goiás e mal conhece ruas e bairros, portou-se bem em meio ao desastre. Não pôde sequer recorrer ao prefeito, pois oficialmente não se sabe onde Fortunati se escondeu lá nos States. Não deve ter sido na gelada Nova York, mas na Florida, de temperatura tão agradável que nem pensa em se mexer de lá.
Sabe disso Sartori, que iniciou seu encantador cruzeiro marítimo de férias também nos States. De Fort Lauderdale, no Caribe, passou pela Jamaica, Bahamas e adjacências, até o México. Dali voou ao Alegre Porto e, ao abrir a mala, começou o furacão...
Afinal, o Carnaval predispõe a isso e a outras coisas mais - ruins, como agora, ou boas como sonharíamos que fossem. Apesar do que passou e dos perdidos no furacão, a ventania já passou!