Mais do que uma quarta-feira de cinzas tradicional, em que os brasileiros curam a ressaca da festa e recomeçam a sua rotina, o dia de amanhã marcará a retomada de desafios gigantescos para o país. Num ano com eleições municipais e Jogos Olímpicos, o Brasil terá que desatar, com a máxima urgência, os nós do impeachment, do processo contra o presidente da Câmara, das investigações da Lava-Jato, do ajuste fiscal, da CPMF e da reforma da Previdência, entre outras matérias importantes e decisivas para a superação das crises múltiplas em que está mergulhado.
É um emaranhado de impasses políticos e econômicos que se misturam e se confundem há mais de ano, a maioria com sérias consequências para a vida de todos os brasileiros. O primeiro grande obstáculo é certamente o representado pelos desacertos da política, que envolvem desde a incapacidade do governo de contar com uma base de sustentação no Congresso até a possibilidade de retomada do debate sobre o impedimento da presidente da República. Executivo e parlamento terão de provar, nesse período que marca de fato o começo do ano, que têm disposição para o enfrentamento das graves questões nacionais.
Ao mesmo tempo, governo e Legislativo se submeterão aos sobressaltos das investigações sobre a corrupção na Petrobras, com desdobramentos cada vez mais imprevisíveis. Tais episódios se desenrolam num contexto econômico de degradação da atividade industrial, de redução do emprego e de inflação que não para de crescer. Desde o ano passado, governo e Congresso dão mostras de que estão longe da resolução dos desencontros da política, que acabam por agravar o cenário da economia. Mas é de tal dimensão a tarefa de resgatar o país da estagnação, que tal empreitada não pode ficar relegada apenas a governantes fragilizados. Tem de ser compartilhada por todos e assumida por lideranças efetivamente comprometidas com os interesses maiores da nação.