A tempestade que atingiu Porto Alegre na sexta-feira foi de grandes proporções, não resta dúvida, mas poderia ter sido muito pior, poderia ter sido uma tragédia humana em todos os sentidos. Aconteceu em uma sexta-feira à noite, no mês de janeiro, quando uma parte significativa da cidade está em férias, nas praias do litoral norte do Estado.
Também é importante ter em consideração que a tempestade não atingiu as regiões pobres da cidade, com residências e infraestrutura precárias. As regiões afetadas foram bairros de classe média e classe média alta.
Por que estou enfatizando isso? Porque se a tempestade tivesse acontecido em uma noite de dezembro, quando também Porto Alegre já é escaldante o suficiente para abrigar temporais, certamente muita gente teria se ferido e teríamos muitas mortes a lamentar.
O que estou fazendo não é um exercício alarmista. O cenário imaginado se torna grave quando as notícias dos estragos acontecidos na cidade apontam que três dos maiores e mais importantes hospitais ficaram em condições precárias de atendimento. Dois dias depois da tempestade, emergências e urgências estavam fechadas, complexos cirúrgicos funcionavam parcialmente, cirurgias foram adiadas. Parte do atendimento ao público de um grande hospital especializado simplesmente desmoronou.
A tempestade foi terrível, mas poderia ter sido pior. E minha pergunta é se o poder público e a iniciativa privada não teriam a responsabilidade de dotar hospitais e pronto-socorros (como sempre, o HPS esteve à altura dos acontecimentos, trabalhando com a eficiência e dedicação que todo porto-alegrense conhece) de condições para que em caso de uma tragédia não fossem atingidos e pudessem ser o porto seguro da população? Será que não poderia haver exceção nas famosas licitações que obrigam o gestor público a comprar sempre o mais barato e de menor qualidade, por óbvio? Não importa se o papel higiênico nas universidades públicas é de farelo, mas importa, sim, se a parede de um atendimento em um hospital de cardiologia desmorona. Será que o poder público não teria forma de garantir normas técnicas mais rigorosas para a construção de hospitais e serviços de saúde em geral? Será que o poder público não teria de dotar os hospitais de garantias especiais de água e luz? Não podemos viver em uma cidade em que, quando uma grande tragédia acontece, os hospitais são tão ou mais atingidos do que a população em geral. Se a resposta é que todas essas regras já existem, ou as regras estão erradas ou não há fiscalização.
Será que tudo está bem, porque não foi desta vez que temos mortos a lamentar?