Há um ano, minha coluna "Corrida para o céu" descreveu como os veículos aéreos não tripulados - os drones - iriam revolucionar a indústria logística. Na área de tecnologia, muito acontece em um ano e, no caso dos drones, foram tantas as mudanças que vale à pena rever as transformações dos últimos 12 meses.
Drones, mais rápido do que se esperava, tornaram-se um produto para o consumidor. No final de 2015, aproximadamente 4,3 milhões de drones estarão nas mãos de consumidores. Isso acontece por dois motivos: (1) com um preço médio de US$ 700, já estão se tornando acessíveis a boa parte da população; (2) no decorrer desse ano, a bateria dos drones passou a ter carga suficiente para que seu processamento atingisse níveis significativos de autonomia e, assim, sua operação não requer muita habilidade dos usuários. Essa é a razão técnica pela qual os quadcópteros, em particular, se tornaram tão populares. Versáteis e suficientemente estáveis, podem ser usados para fotografia e outros fins. E o crescimento só aumentará! Apenas nos EUA, mais de 1 milhão de drones serão comercializados nas próximas quatro semanas até o Natal. O mercado de drones já se tornou muito expressivo, representando um total de US$ 1,7 bilhão. Os EUA lideram o mercado consumidor com 35%, seguidos pela Europa com 30% e a China com 15%.
E o que exatamente as pessoas fazem com seus drones? A lista é longa e vai muito além de simplesmente espionar a vizinha bonita. Muitos usuários ainda estão apenas brincando com seus drones em um parque, tentando aperfeiçoar o voo. Aqueles com mais tempo de treino utilizam seus drones para gravar vídeos e tirar fotos incríveis. A maioria dos drones já vêm com um suporte giratório e estabilizador para a montagem de uma pequena câmera, e o aumento da capacidade de processamento permitiu que os drones se mantivessem estáveis para tais filmagens. Há também quem faça corridas aéreas fantásticas com seus drones (veja os vídeos no YouTube). Para mim, as finalidades mais interessantes não estão ligadas à exploração aérea, mas à submarina. Drones específicos conseguem descer a uma profundidade de 100 metros, permitindo explorar a vida aquática, navios naufragados etc.
No universo empresarial, a mudança é ainda maior, pois os governos começaram a afrouxar as restrições regulamentares devido à pressão da indústria local. Nos EUA, mais de 400 empresas já receberam aprovação para operar drones comercialmente. E não é só nos EUA. O Reino Unido, a França, o Canadá, a Austrália e o Japão têm governos ainda mais flexíveis que os EUA. A análise dessas aprovações revela que os drones estão sendo utilizados de forma muito ampla: fotografia aérea, filmagem, inspeções industriais e de serviços públicos, levantamentos aéreos, mapeamento, precisão agrícola, gestão de recursos na construção civil, logística, conservação ambiental, operações de busca e salvamento, educação e segurança.
Muitas dessas aplicações são extremamente relevantes para o país. Mais precisão na coleta de dados é certamente essencial para aumentar a produtividade de uma potência agrícola como o Brasil. Embora estejam cientes da importância de inspecionar seu plantio, poucos agricultores têm tempo para inspecionar sua lavoura a pé ou dinheiro para pagar inspeções aéreas. Como o retorno do investimento em um drone pode ser alcançado em menos de uma safra, muitos agricultores nos EUA já estão optando por usar drones para inspecionar suas lavouras e intervir rapidamente onde for necessário. No leste do Colorado, a Golden Praire, por exemplo, utiliza drones para inspecionar o crescimento de sua lavoura de 10 mil hectares.
São várias as aplicações na área de mineração - outro grande setor produtivo do Brasil. Mais barato do que os helicópteros tradicionais, drones estão sendo utilizados para prospectar novas áreas e examinar áreas com problemas, oferecendo resultados melhores a uma fração do custo. Imagine que uma empresa de mineração tenha um problema em um local remoto. Um especialista talvez levasse horas para conseguir chegar lá e ver a causa do problema, ao passo que um drone poderia sobrevoar o local, tirar fotos de alta resolução e levá-las para o especialista para identificar o problema em questão de minutos. Drones também estão sendo usados para criar modelos de topografia do terreno de minas abertas e monitorar diariamente a quantidade de material removido. Esse método é muito mais eficiente, preciso e barato que o atual, no qual planilhas são atualizadas por operários. Barrick Gold, Imerys e Rio Tinto utilizam drones para monitorar suas explorações, mapear novas jazidas e controlar seus equipamentos.
Drones são utilizados em várias outras formas de inspeção além da mineração. Empresas de serviços públicos, como, por exemplo, geradoras de energia a partir de painéis solares, fazem inspeções com drones que sobrevoam centenas de painéis a fim de detectar sensores com defeito. Os drones captam a temperatura dos painéis e identificam rapidamente aqueles que são defeituosos pois esses apresentam temperatura um pouco mais elevada.
Por último, drones poderiam ser empregados em diversas situações em resposta a catástrofes. Dois dias após o terremoto de 7,8 graus ter atingido o Nepal em abril deste ano, drones da startup Skycatch de São Francisco começaram a sobrevoar o país, prestando socorro e levando suprimentos a locais remotos. Criaram rapidamente uma vista aérea dos patrimônios mundiais da Unesco, determinando com que urgência deveriam ser protegidos antes do início das chuvas trazidas pelas monções. No Brasil, a mesma tecnologia poderia ser usada para criar rapidamente uma vista aérea de áreas atingidas por inundações e desmoronamentos de terra, agilizando o atendimento e o tempo de resposta do governo em tais situações.
Como você pode ver, a "corrida para o céu" não parou. Muito antes pelo contrário, o uso de drones se acelerou e se diversificou tremendamente nos últimos 12 meses. Além da expansão nas operações comerciais, drones se tornaram um dos dispositivos mais cobiçados pelos consumidores, principalmente com a proximidade do Natal. Se ainda não pensou no seu presente, talvez ainda dê tempo de pedir para o Papai Noel trazer um drone para você. Quem sabe?
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