Está programado para esta segunda o início de mais uma paralisação de caminhoneiros, desta vez com um objetivo claramente político: tentar forçar a deposição da presidente Dilma Rousseff. Chega a ser inacreditável que uma categoria com potencial para bloquear o país e causar desabastecimento tenha lideranças tão pouco responsáveis. Não há argumento capaz de sustentar uma estratégia tão esdrúxula, em meio a uma crise política que propicia todo tipo de reação, inclusive de ideias como essa. Qualquer cidadão pode expressar, pelo amplo direito de opinião, contrariedade com o governo. Pode inclusive defender, como muitos defendem, que o governo se submeta a um processo de impeachment.
Mas uma categoria profissional não pode utilizar isso como pretexto para parar o país, mesmo que parcialmente, e tumultuar a vida de todos. Sob quaisquer pretextos, nenhuma atividade profissional pode se sentir no direito de bloquear ruas e estradas e interromper a livre circulação de pessoas e mercadorias. É inacreditável que, além de desrespeitar as leis, parte da liderança dos caminhoneiros pretenda apresentar o protesto como um projeto político. É previsível que tais atos resultem em transtorno para quem não tem nenhuma relação com os fatos. Foi o que aconteceu em abril, quando uma paralisação da mesma categoria chegou a provocar confrontos violentos e uma morte no Rio Grande do Sul.
Sabe-se que os transportadores autônomos enfrentam uma situação de total fragilidade, pela crise econômica, pelo aumento de custos em geral e dos combustíveis, em particular, pela queda nos preços dos fretes e pela incapacidade de pagar em dia empréstimos tomados exatamente para adquirir caminhões. A situação é agravada pelo fato de que, como comprovam estudos sérios, há um excesso de pelo menos 300 mil caminhões no país. A conclusão é de que faltam mercadorias e sobra oferta de frete.
O resultado disso é o empobrecimento de parcela expressiva dos profissionais. É nesse contexto que oportunistas tentam arregimentar grupos insuflados a contribuir para a radicalização do embate entre governistas e oposicionistas. O bom senso recomenda que líderes de fato e de direito dos caminhoneiros orientem seus liderados, no sentido de melhor avaliar um movimento que tem tudo para se transformar muito mais em atos de desordem do que em manifestação de descontentamento com o governo.