Eles até são independentes. Às vezes, harmônicos entre si. Mas não têm pesos iguais. Desde que comecei a trabalhar como jornalista, formei minha convicção: o Judiciário é o mais poderoso dos poderes.
Uma explicação bem simples: um ou mais juízes, uma vez provocados para tal, podem prender ou afastar os chefes do Executivo e do Legislativo. Já o contrário é impossível.
Montesquieu, o criador da teoria da separação dos poderes, deve ter pensado nisso. Em um sistema de governo, alguém tem que dar a palavra final.
Na democracia, é o Judiciário. E quem tem a última palavra, ao aplicar e interpretar a lei, manda.
Da briga de vizinhos ao impeachment, do destino do cão na hora do divórcio dos donos à indenização pelo tombo no shopping. Nossa vida, cada vez mais, é decidida pelos tribunais.
Muito, porque perdemos a capacidade de conversar. Também porque a expressão "meus direitos" está em alta. Muitas vezes em detrimento de outras, como "meus deveres" ou "o direito dos outros".
A Justiça é hoje bem mais acessível. E isso é bom. Mas é preciso ter cuidado com a hipertrofia que, em vez de corrigir, distorce.
Acompanho o Judiciário há mais de duas décadas - e nutro por ele uma profunda e transparente admiração. Essa transformação tem um símbolo. Ele surgiu não faz muito, mas fala alto.
É uma espécie de Torre Eiffel, de pirâmide de Quéops, de Muralha da China. Um marco físico e concreto: o drive thru no Foro Central de Porto Alegre. O advogado não precisa sequer sair do carro para protocolar
a sua petição.
Que tempos os nossos! Abrir um processo na Justiça não demora mais do que pedir um Big Mac.