No dia 12 de dezembro de 2005, a manchete de ZH foi: "Guardião do cofre da União deixará o governo". O subtítulo dizia: "Secretário do Tesouro, Joaquim Levy, é tido como um dos algozes das contas gaúchas". Sim, o mesmo Levy que hoje é ministro da Fazenda de Dilma Rousseff. Dez anos depois, Levy é alvo do mesmo tipo de pressão que o afastou do segundo escalão do governo Lula em 2005: o compromisso com a austeridade, que o mercado considera sua maior virtude, é defeito incurável para os líderes do PT.
Dilma descarta risco de impeachment e ruptura institucional
É impressionante a semelhança entre o discurso da época e o de agora, verbalizado pelo presidente do PT, Rui Falcão, e cantado nos bastidores pelo ex-presidente Lula. A síntese da notícia de 2005 era: "No dia em que rumores da saída do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, se tornaram fortes, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, anunciou que está deixando o governo. Ele deverá assumir uma vaga no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington. Um dos principais responsáveis pelo arrocho nas contas públicas, Levy contraria ministros e governadores, como Germano Rigotto. A crescente tensão entre os que defendem um aumento dos gastos públicos e os que pretendem ampliar o aperto fiscal pode ser real motivo de sua saída".
Kátia Abreu defende Levy e diz que ele faz o que "economista responsável faria"
Irritada com as especulações sobre a possível demissão de Levy, a presidente Dilma Rousseff garantiu em Estocolmo que o ministro fica e que não falará mais sobre o assunto para não alimentar especulações. Disse que Falcão tem o direito de não concordar com Levy, mas que quem manda é ela.
Dilma quer a permanência de Levy porque sabe que, se está ruim com ele, pior ficará sem ele. Basta ver o comportamento do mercado sempre que crescem os boatos sobre a saída de Levy.
Falcão diz que não se sentiu desautorizado por fala de Dilma, mas critica ajuste fiscal
A disposição da presidente para manter o ministro da Fazenda não basta. A pergunta que se impõe é: até quando Levy aguenta, sabendo que tem contra si Lula e outros caciques do partido da presidente?
Mesmo depois de Dilma ter garantido que Levy fica, Falcão voltou a defender a saída do ministro:
- A opinião dela é a opinião do governo, e a minha opinião é a opinião do PT.
Em vez de se intrometer no governo, Lula deveria gastar o tempo livre para explicar suas ligações com figuras notórias investigadas na Operação Lava-Jato. Ou será a campanha contra Levy uma forma de desviar o foco das suspeitas lançadas por delatores?