A entrevista do comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, a Guilherme Mazui, da sucursal de Brasília, e publicada domingo em ZH, deve ser entendida pelos dois lados do espectro político como uma barreira de proteção contra atos tresloucados. Tanto para os que querem o fim imediato ou a manutenção do mandato de Dilma a qualquer preço, o antídoto apresentado pelo general se chama Constituição.
A fala do comandante pode dar a impressão de que ele está se imiscuindo em um roteiro exclusivamente civil, mas não é bem assim. Diante da ameaça de uma crise institucional e de turbulências nas ruas, não por acaso o general volta e meia recita o Artigo 142 da Constituição: "As Forças Armadas... destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem".
Ou seja, o que o Exército de 2015 está dizendo é que não se meterá em aventuras à margem da lei e que, ao contrário, agirá para manter a via constitucional descongestionada. Leia-se assim: se os demais poderes, Congresso e Judiciário, entenderem que Dilma fica, cumpra-se o escrito. Mas, se entenderem que sai, não adianta o Planalto chamar de golpe e convocar a tropa do MST para oferecer resistência. Fazer cumprir a lei e a ordem neste caso deve ser compreendido também como garantir a paz social e o funcionamento das estruturas básicas do país, como água, luz, sistema bancário etc, em remota hipótese de descontrole generalizado.
Paradoxalmente, a chegada ao Ministério da Defesa de um líder do PC do B que é tão comunista hoje quanto o dono do Alibaba deu certo alívio às Forças Armadas. Aldo Rebelo se identifica com o nacionalismo dos militares e tem conhecimento das doutrinas e das necessidades das três forças, graças sobretudo a anos de atuação dedicada na Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara.
Cauteloso, Rebelo não pretende remexer no passado e muito menos empurrar as forças para uma partidarização à la bolivariana - oficiais brasileiros se horrorizam ao ver colegas venezuelanos enviados ao Brasil declamando cegamente "Patria, Socialismo o Muerte!". A divisão do Exército em correntes esteve no centro de todas as crises militares dos últimos 100 anos. Hoje, para tranquilidade do país, a única corrente é a da defesa da Constituição.