O Brasil assiste a uma sucessão de fatos negativos, que continuam a desafiar a capacidade de resistência da economia aos efeitos perversos dos confrontos políticos. O mais recente foi expresso pelo rebaixamento na avaliação do país pela agência de risco Fitch, na sequência de decisões semelhantes anunciadas por outras duas organizações do setor. Acumulam-se as percepções de agências internacionais e de investidores sobre a fragilidade da situação econômica, no contexto de um impasse político que às vezes se apresenta como aparentemente insuperável.
O que governo e Congresso precisam fazer, diante dessa realidade, é provar que podem, sim, superar esse momento e contribuir para o fim de uma travessia penosa para todos. Há uma sensação generalizada, não só entre empresários e analistas, mas entre a população em geral, de que o duelo de forças políticas paralisaram o país. O ajuste fiscal não avança no Congresso, que acaba, ao invés de contribuir para a melhoria das contas públicas, por criar mais despesas. Vetos presidenciais que se opõem a projeto já aprovados pelo Legislativo, na contramão da austeridade, aguardam apreciação em plenário. E pautas decisivas para o encaminhamento de soluções são travadas pelo embate estritamente político, em que prevalece o jogo de forças entre governistas e oposicionistas, com desprezo quase total pelos problemas nacionais.
As circunstâncias favorecem o antagonismo. O presidente da Câmara, sob investigação, tem contra si provas, enviadas pelas autoridades suíças, de que mantinha contas secretas no Exterior. O governo, por sua vez, não consegue desvencilhar-se dos danos políticos dos casos de corrupção identificados pela Lava-Jato e, ao mesmo tempo, mostra-se incapaz de reaglutinar a própria base parlamentar. A falta de determinação do Executivo, a postura irresponsável do Congresso e, por decorrência, a desconfiança de quem produz e investe formam um cenário preocupante.
Enquanto isso, até lideranças petistas falam abertamente na demissão do ministro Joaquim Levy, como se essa fosse a solução. O que a sociedade deseja é que as forças que se opõem passem, em algum momento, a trabalhar pelo bem comum, e que a economia, há muito tempo abalada pelos desacertos do governo, deixe de ser vítima de intermináveis confrontos patrocinados pela política.