Sempre que recebe um governante estadual solicitando recursos federais, o ministro Joaquim Levy faz questão de posar para fotos na frente da parede do Ministério da Fazenda onde se localiza o cartaz com o conceito da Lei de Responsabilidade Fiscal: "Agora o Brasil só gasta o que arrecada". Infelizmente, e a responsabilidade não é só do ministro, o próprio Palácio do Planalto vem dando maus exemplos, a começar por gastos excessivos com uma burocracia estatal que, nos últimos anos, aumenta em número e consome cada vez mais recursos, bancados com os impostos dos contribuintes. Só na ativa, o governo federal tem hoje 618 mil funcionários. Entre esses, inclui-se uma elite que, graças ao acúmulo de gratificações e vantagens, consegue auferir ganhos mensais superiores aos de ministros e aos da própria presidente da República - situação incompatível com a realidade financeira do país.
Não faz sentido que, enquanto tenta convencer o país da necessidade de um rigoroso ajuste fiscal, impondo um custo pesado para todos os brasileiros, o governo preserve práticas na máquina administrativa totalmente na contramão. A tendência a atitudes perdulárias não é de hoje, mas fica mais visível diante da crescente negação dos contribuintes a aumento de impostos e à maior cobrança por rigor das contas por parte de instituições como o Tribunal de Contas da União (TCU). Desde 2000 até agora, o número de cargos de confiança no governo federal, por exemplo, passou de 66.040 para 100.313, e nada indica que apenas a crise financeira seja suficiente para deter esse inchaço.
Pressionado pelo clamor popular, o Planalto acabou reduzindo o número de ministérios de 39 para 31 neste ano. A iniciativa, porém, tem impacto reduzido numa máquina administrativa em que ocupantes de cargos de confiança, muitas vezes cedidos de estatais, disputam 37 tipos de gratificações, como retratou, recentemente, o jornal O Globo.
O Planalto, que tenta convencer os brasileiros da urgência de um ajuste fiscal, deveria começar dando o exemplo, cortando gastos na máquina administrativa. É inadmissível que, enquanto famílias e empresas apertam o cinto, os responsáveis pela condução de políticas governamentais continuem a viver como se fizessem parte de outro mundo.