Só há uma certeza entre os estudiosos e operadores do mercado cambial: sem fatos novos, a tendência da moeda americana é só subir. E dependendo das novidades, subir ainda mais. O mercado cambial está especulativo, e a cotação não tem âncora em acontecimentos reais ou expectativas prováveis. A incerteza é o combustível da decolagem, que tem sido diariamente reabastecido, ora por trapalhadas do governo ora por desatinos do Congresso.
Como ficou evidente nesta quarta-feira, quando ofereceu contratos novos que representam garantias contra a desvalorização futura do real e foi ignorado, o Banco Central tem pouco a fazer. Esse é o diagnóstico até de quem admite intervenções em momentos cruciais, como Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, que fez essa ponderação ao jornal Valor. O economista ainda comparou à "contabilidade criativa" a ideia de vender reservas internacionais do BC para reduzir a dívida bruta do país.
E enquanto o dólar testa novos patamares, começa a surgir um novo comportamento no mercado. Gustavo Candiota, da Câmbio Ideal, relata um fenômeno novo na empresa, que faz transações em moeda estrangeira desde para viajantes até para quem, no passado, comprava imóveis nos Estados Unidos. Embora o mercado esteja comprador no atacado, no varejo está começando a aparecer, confirme o relato de Candiota, um número maior de pessoas vendendo dólares entesourados em casa há muito tempo.
- Não é um grande volume, mas o número de vendedores com esse perfil aumentou - relata.
Em certos casos, as cédulas são das décadas de 1980 e 1990, só aceitas nos Estados Unidos. A empresa compra, com deságio, mas a operação ainda é considerada vantajosa para quem vende. Candiota vê no rompimento dos R$ 4 um "divisor de águas" que vai demorar a retornar. Se retornar.