O grenalismo político que andamos a identificar nas ruas me faz lembrar as últimas duas vezes em que vi o Rio Grande se unir. O jovem secretário da Tribuna que eu era baixou, na madrugada do dia 24, a manchete que antecedeu o suicídio: Getulio sai e não volta. Sete anos depois, em outro jornal, o Diário Carioca, a manchete foi a renúncia de Jânio Quadros, e, logo depois, sob a censura de Carlos Lacerda, a Legalidade, que divulgávamos ardilosamente com as informações telefônicas do chefe de imprensa do Piratini, o então jovem amigo Hamilton Chaves.
A outra lembrança recolhi da memória coletiva, a revolução de 30, que uniu ximangos e maragato mais a gama inteira da política rio-grandense. Na verdade, tudo tinha começado sete anos antes, pelo Tratado de Pedras Altas.
De comum entre esses quatro episódios, a união das forças políticas e populares do nosso Estado. Recuando um pouco mais, o Tratado de Ponche Verde, em 1845, já encerrara a mais longa e cruenta revolta regional do período regencial, nossa gloriosa Revolução Farroupilha. Agrada-me sempre lembrar esses episódios quando nos acusam de separatismo. Ao contrário, foi pela vocação brasileira que nos unimos, como também nos dividimos por questões nacionais, do imposto do charque ao udenismo golpista.
Este registro me ocorre porque vivemos agora um singular momento de identificação no infortúnio. Quebrado é o adjetivo comum, assim como iguais são as receitas amargas, CPMF ou ICMS, parcelamento ou atraso das contas, congelamento ou redução salarial, orçamento zero aqui ou abaixo de zero em Brasília.
Talvez esteja faltando o mais difícil, dispensar o inventário de culpas e construir um projeto com discurso unificado para superar as dificuldades comuns e preservar o bem mais valioso, aquele que, quase sempre, nas crises, é o primeiro produto descartável: a democracia.