O tratador de cavalos Gilberto Padilha recorreu a uma medida extrema nesta semana para provar que um dos animais que cuida em Três de Maio, no Noroeste do Estado, não está infectado por mormo. Padilha publicou um vídeo na internet em que extrai e bebe o sangue da égua.
O homem justificou a medida extrema, alegando que não viu outra alternativa diante do que classificou de uma imposição do Estado sobre a sua propriedade e seus animais, diante da ameaça de sacrifício da égua. Padilha diz não ter medo de ser contaminado por mormo.
"Eu não tinha outra saída. Se essa doença é letal, eu preferia então provar, tomando sangue, eu corro risco de morrer. Mas eu tenho mais medo de morrer por bala perdida do que a minha égua me matar, porque de peste eu não morro".
O mormo é uma doença infecto-contagiosa causada por uma bactéria, que não tem vacina, nem tratamento. Por isso, exige o sacrifício do animal. A doença é transmissível para seres humanos.
O homem garante que a égua "Dona Chica" não está doente. Ele fez quatro exames em laboratórios particulares no animal, todos com resultado negativo. Na segunda-feira (16), ele recebeu a notificação do governo do Estado, que realizou uma coleta que apontou a presença da doença do animal.
O tratador de cavalos Gilberto Padilha ingressou na Justiça para pedir uma contraprova, já que possui quatro resultados negativos para mormo, e evitar o sacrifício da égua.
"A inspetoria não aceita esses exames, diz que a propriedade está interditada. Mas a gente sempre tenta ter uma prova, porque é muito simples chegar e ir matando os cavalos. A gente quer entender o que está acontecendo, se esses laboratórios aqui do Rio Grande do Sul e de São Paulo não provam nada, alguma coisa está errada".
Posição do Estado
O assessor técnico da Secretaria da Agricultura, veterinário Fernando Groff, afirma que no caso dessa propriedade de Três de Maio, as normas não preveem contraprova e indicam o sacrifício da égua. Groff explica que o local já estava sob vigilância da Secretaria e foi interditado no ano passado porque um cavalo já havia sido infectado por mormo.
"O que impôs que fosse sacrificado esse animal, nesse teste, é que já existia dentro dessa propriedade, convivendo com outros animais, um cavalo que tinha dois testes positivos, o de triagem e do laboratório de referência, que é um animal com a doença ativa".
Em nota, o governo do Estado lamentou o ocorrido em Três de Maio, destacou que o mormo é uma doença transmissível entre animais e seres humanos e desaconselha a exposição a riscos biológicos. A Secretaria da Agricultura defende que os critérios de diagnóstico de mormo obedecem a legislação vigente.
Confira a nota do governo do Estado:
"A Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi), através do Departamento de Defesa Agropecuária, em conjunto com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), esclarecer informações a respeito da doença do mormo, que está sob monitoramento e controle no Estado do Rio Grande do Sul.
1º - Lamentamos o fato ocorrido recentemente no município de Três de Maio, envolvendo um proprietário de equino diagnosticado com mormo por meio de exame oficializado pelo Ministério da Agricultura.
2 º - De acordo com a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), o mormo trata-se de uma zoonose, uma doença transmissível entre animais e seres humanos, razão adicional para que a Secretaria da Agricultura tome todas as precauções necessárias para a adequada proteção da saúde pública. No entanto, qualquer exposição desnecessária a riscos biológicos é sempre desaconselhável, pois pode trazer consequências graves para a saúde.
3º - É fundamental ressaltar que no Brasil são 24 os estados que possuem incidência do mormo e que os procedimentos de exames adotados são os mesmos, pois há o dever de cumprir as determinações previstas em legislação do Ministério da Agricultura, as quais são baseadas em procedimentos reconhecidos internacionalmente pela OIE.
4º - Passado um ano do primeiro caso de mormo diagnosticado, é importante destacar que, desde o início do mês de maio, as equipes técnicas da Secretaria, do Ministério da Agricultura e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) estão realizando um estudo técnico cruzando dados do números de exames feitos neste ano, relacionando com os focos e o número de casos positivos verificados, com o objetivo de justificar a ampliação do prazo para permissão de trânsito de equinos para seis meses. Esse procedimento é de conhecimento do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Federação Gaúcha de Laço e entidades de associações de cavalos, que estiveram reunidos na Secretaria da Agricultura no dia 13 de maio passado e foram informados sobre o levantamento. O estudo será concluído até o final do mês de maio.
5º - Por fim, a Secretaria da Agricultura e o Mapa reiteraram que todos os procedimentos efetuados para o diagnóstico da doença do mormo, bem como seus exames, seguem o rigor da legislação vigente e são necessários para preservar justamente o cavalo, animal tão caro e sagrado para nossas tradições gaúchas."