Imagine uma casa de show, cinema, teatro ou circo que termine cada apresentação com prejuízo. Só prejuízo. Um domingo depois do outro. Uma quarta-feira após a outra. Certamente fecharia as portas num desses dias para nunca mais reabrir. Os funcionários procurariam outra atividade. Os donos pensariam num outro negócio. O futebol do Interior é assim, sem público e sem renda. Só permanece vivo por um pequeno grupo de abnegados.
O futebol gaúcho profissional está com duas competições neste segundo semestre. O Campeonato Valmir Louruz e Copa Luiz Fernando Costa dão vagas para a Super Copa Gaúcha, no fechamento da temporada. Os borderôs me fazem questionar como os clubes continuam pagando as contas, fazendo viagens e jogando. São 90 pagantes aqui, 65 ali, 40 acolá. Nos melhores dias, superam a marca de cem torcedores.
Num São José e Pelotas deste mês, por exemplo, 19 pessoas pagaram para assistir à vitória do clube de Porto Alegre por 3 a 0. Sim, só 19. Caberiam todos em 4 automóveis. Mais gente em campo do que na arquibancada. A renda de R$ 290 não cobre nem o custo de R$ 1.373 com a arbitragem.
Tirando as poucas exceções, estádio vazio é a regra. O futebol interiorano e de clubes da Região Metropolitana não atrai público. O morador até simpatiza com o clube da cidade, mas não frequenta o estádio. Ele tem outras prioridades. Se gosta de futebol, prefere acompanhar pela TV grandes jogos do futebol internacional e nacional. O Gauchão também tem pouco público. O dinheiro da TV que banca os clubes.
Como negócio, é difícil de compreender a sobrevivência dos clubes pequenos no profissionalismo. Os patrocinadores buscam se vincular a boas marcar. No futebol, o valor da marca está relacionado diretamente com o tamanho da torcida. Sem torcida e jogos pela TV, só a vontade de ajudar explica a colocação de dinheiro de empresas nos clubes. Que bom que ainda patrocinam.
O calendário do segundo semestre mantém em atividade muitos jogadores, técnicos e profissionais das comissões técnicas. São pessoas que sustentam bravamente suas famílias. Até quando conseguiremos manter vivo o futebol do Interior? Se não fossem clubes de futebol, estariam no amadorismo. Sem torcedor, não há razão de ser para os clubes. Meia dúzia de apaixonados continua mantendo a tradição.