A Ucrânia aumentou, nesta terça-feira (3), a pressão sobre a Otan para obter mais armas e garantias de segurança, incluindo a possibilidade de se juntar à aliança militar, um cenário que a Rússia considera "inaceitável".
O ministério ucraniano das Relações Exteriores afirmou que a "única real" garantia de segurança para este país é a adesão "plena" à Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma declaração que gerou uma resposta imediata da Rússia.
Em Moscou, o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, disse que a eventual adesão da Ucrânia à Otan é "inaceitável" para a Rússia porque representaria "um evento ameaçador para nós".
A pressa ucraniana se deve ao retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em menos de dois meses, e à busca desesperada por obter uma posição de força antes de qualquer possível negociação com a Rússia para pôr fim ao conflito armado.
Em Bruxelas, os ministros das Relações Exteriores dos países da Otan iniciam nesta terça-feira uma reunião de dois dias, e em um contato com a imprensa, o secretário-geral da aliança, Mark Rutte, optou pela cautela.
- Otan adota cautela -
Rutte se limitou a reiterar o apoio da aliança militar à Ucrânia, mas sem mencionar um convite para adesão. O processo de aproximação da Ucrânia à Otan, disse Rutte, é "irreversível", mas não mencionou um cronograma específico.
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Andrii Sibiga, participa das reuniões na sede da aliança militar e de um "jantar de trabalho" com a Otan.
Até agora, a aliança tem preferido a cautela e evitado oferecer à Ucrânia um cronograma definido de adesão.
Para Rutte, o mais importante agora é "garantir que a Ucrânia tenha o que precisa para alcançar uma posição de força quando as conversas de paz começarem".
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, colocou em dúvida a continuidade da ajuda americana à Ucrânia e é favorável a um rápido acordo entre ucranianos e russos.
Ao chegar nesta terça-feira à sede da Otan, Sibiga pediu aos países da aliança o "urgente abastecimento de pelo menos 20 sistemas adicionais, tipo Hawk, NASAMS ou IRIS-T", equipamentos de mísseis de médio alcance.
Zelensky manteve no domingo uma reunião com a nova chefe da diplomacia da União Europeia, a estoniana Kaja Kallas, que disse a jornalistas que "a garantia de segurança mais forte [que se pode oferecer à Ucrânia] é a adesão à Otan".
No entanto, os países mais influentes da aliança descartam uma adesão imediata da Ucrânia por temer que todo o bloco seja arrastado para uma guerra total com a Rússia.
- A sombra de Trump -
Fontes diplomáticas da Otan afirmam que hoje a Aliança Atlântica tem pouca margem de manobra porque os governos de Joe Biden, nos Estados Unidos, e Olaf Scholz, na Alemanha, estão próximos do fim.
"Estamos discutindo muito intensamente. Precisamos de garantias de segurança que realmente funcionem", disse a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock.
Por sua vez, o primeiro-ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel, disse que a adesão da Ucrânia à Otan "traria tensão e então existiria a possibilidade de mais conflitos no futuro".
Além disso, as mesmas fontes destacam que convidar a Ucrânia seria uma afronta a Trump, que voltará à Casa Branca em janeiro.
"Um gesto assim, um mês antes da chegada da nova administração, enfurecerá Trump, que atuaria contra de forma imediata", disse um diplomata da Otan.
Trump reiterou sua convicção de que pode acabar com a guerra em questão de horas, mas não revelou detalhes sobre como espera alcançar a meta.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, criticou que a Ucrânia esteja sob um guarda-chuva protetor da Otan.
Enquanto a Ucrânia pressiona pela via diplomática, na guerra suas forças estão cedendo território na frente leste, diante de uma ofensiva devastadora da Rússia.
Em uma reunião em Bruxelas na semana passada, a Ucrânia pediu aos seus aliados que lhe forneçam sistemas de defesa aérea capazes de derrubar o novo míssil balístico hipersônico experimental russo Oreshnik.
* AFP