A OCDE alertou nesta quarta-feira (4) que as medidas protecionistas representam um "grande risco" para a economia mundial, a menos de dois meses do retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que tem sede em Paris e presta assessoria aos países-membros em políticas econômicas e sociais, não menciona Trump em seu relatório.
Contudo, o presidente eleito dos Estados Unidos prometeu aplicar tarifas aos parceiros comerciais de Washington quando retornar à Casa Branca em janeiro, o que permite pensar que a advertência da OCDE parece apontar para as medidas de Trump.
"Maior protecionismo, especialmente das maiores economias, é outro grande risco", afirma a organização em seu relatório de perspectivas econômicas mundiais.
Trump ameaçou durante a campanha aplicar tarifas de pelo menos 10% sobre todas as importações. E, após vencer a eleição, prometeu aplicar tarifas de 25% às importações do Canadá e do México.
"A intensificação das medidas comerciais restritivas pode aumentar os custos e os preços, desestimular o investimento, enfraquecer a inovação e, em última instância, reduzir o crescimento", alerta a OCDE.
Em seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, Trump impôs tarifas sobre determinados produtos da China e de outros parceiros comerciais, mas em uma escala menor do que prometeu fazer em seu retorno ao poder.
Um estudo recente da consultoria Roland Berger calculou em mais de 2,1 trilhões de dólares (12,6 trilhões de reais) até 2029 o custo das medidas americanas e das prováveis contramedidas da China e da UE.
O secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, afirmou em uma entrevista coletiva que a instituição não levou em consideração os anúncios de campanha de Trump em suas projeções, exceto para a hipótese da prorrogação da redução de impostos aplicada em seu mandato anterior, que terminará em breve.
- Resiliência -
Mas Trump não é o único risco em termos de medidas protecionistas.
A pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia evidenciaram a dependência de muitos países do comércio mundial, mas ao invés de facilitar a negociação de bens e serviços, muitos países buscaram encurtar algumas cadeias de suprimentos e proteger seus mercados.
Uma disputa eclodiu entre Pequim e Bruxelas quando a União Europeia impôs tarifas sobre os veículos elétricos da China, que ameaçou responder com tarifas sobre bebidas europeias.
A OCDE destaca que "a economia mundial demonstrou uma notável resiliência, apesar de enfrentar grandes crises, como a pandemia e uma crise energética".
A organização elevou a previsão de crescimento mundial para 2025 a 3,3%, uma alta de 0,1 ponto percentual na comparação com a projeção de setembro, em grande parte devido à força da economia americana.
Segundo a organização, a economia dos Estados Unidos crescerá 2,4% no próximo ano, bem acima da previsão inicial de 1,6%.
A OCDE também elevou a previsão de crescimento do Reino Unido em 0,5% ponto percentual, para 1,7%, devido ao maior gasto público previsto pelo novo governo trabalhista.
A economia da China deve ter uma expansão de 4,7% em 2025, um aumento de 0,2 ponto percentual, enquanto o crescimento da Índia foi revisado em alta de 0,1%, a 6,9%.
Alemanha e França, no entanto, viram suas previsões de crescimento reduzidas em 0,3 ponto percentual, para 0,7% e 0,9% respectivamente, devido às crises políticas e às crescentes pressões fiscais.
Para o Brasil, a instituição prevê um crescimento de 2,3% em 2025 e 1,9% em 2026, abaixo da projeção de 3,2% para 2024.
* AFP