As audiências de confirmação dos indicados para as vice-presidências da Comissão Europeia evidenciaram, nesta terça-feira (12), as fortes tensões políticas no Parlamento Europeu, o que pode levar ao adiamento de votações decisivas.
Essas tensões ficaram particularmente evidentes durante a audiência com a socialista espanhola Teresa Ribera, nomeada futura comissária europeia para a Transição Limpa, em uma reunião na qual a extrema direita adotou um tom agressivo.
A terça-feira foi um dia crucial na formação da futura Comissão Europeia. Na semana passada, os eurodeputados sabatinaram 20 candidatos, mas a sessão desta terça foi dedicada aos seis nomes indicados para as vice-presidências.
A primeira que seria votada era a ex-primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, como responsável da diplomacia europeia. Contudo, os eurodeputados adiaram a decisão e a juntaram com outros indicados mais polêmicos. A data da eventual votação do conjunto ainda não foi definida.
Kallas não demorou a deixar claro uma de suas prioridades: que a UE apoie a Ucrânia "o tempo que for necessário" para se defender da invasão russa.
Questionada sobre sua posição em relação ao adiado acordo comercial entre a UE e o Mercosul, apenas observou que "se não chegarmos a um entendimento com eles, esse vácuo será rapidamente preenchido pela China".
Ao encerrar sua audiência, Kallas pediu união. "O mundo está pegando fogo, e é por isso que temos que nos manter unidos", disse.
Outra das audiências foi com o italiano Raffaele Fitto, indicado para ser o comissário europeu para Coesão e Reformas, embora suas relações com o governo de extrema direita de seu país levantem críticas sobre a sua candidatura.
Em sua audiência, Fitto insistiu em que não representava "um partido político" e pretendia reafirmar seu "compromisso com a Europa".
Os partidos de centro e de esquerda do Parlamento Europeu estão questionando a decisão da presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, de dar à Itália, governada pela extrema direita, uma vice-presidência.
Para esses blocos, a nomeação destaca o crescimento da extrema direita no bloco e viola o acordo político que permitiu a reeleição de Von der Leyen em julho.
- Equilíbrio delicado -
O dia continuou com as audiências do francês Stéphane Séjourné, designado para Estratégia Industrial, e da búlgara Roxana Minzatu, para População, Habilidades e Preparação.
Quando chegou a vez da espanhola Teresa Ribera, houve momentos de grande tensão, a ponto de a própria candidata ter que pedir aos eurodeputados que moderassem suas declarações.
Legisladores da extrema direita, como o espanhol Jorge Buxadé, do partido Vox, insistiram em levar para a audiência a disputa política interna na Espanha sobre as responsabilidades pelas recentes inundações na região de Valência, no leste do país.
"Tenho certeza de que a história, e talvez também os juízes, a julgarão por sua inação e incompetência", disse Buxadé, em uma frase que gerou um coro de protestos.
Ribera, no entanto, evitou agravar a situação e limitou-se a apresentar sua visão sobre a transição da UE para a neutralidade em emissões de carbono.
"A corrida industrial para alcançar a neutralidade climática já está em andamento, e a velocidade da mudança está se acelerando. O resto do mundo não vai nos esperar", afirmou.
"Se nossa economia depende de combustíveis fósseis que não produzimos, nunca poderemos garantir a prosperidade", ressaltou.
A jornada de audiências foi concluída com a sabatina da finlandesa Henna Virkunen, nomeada para ser comissária europeia de Segurança e Democracia.
Os vice-presidentes têm competências específicas, mas também têm a tarefa de coordenar o trabalho de outros comissários encarregados de assuntos relacionados.
Uma vez ratificada pelo Parlamento, a equipe iniciará um mandato de cinco anos no início de dezembro.
* AFP