Donald Trump, que admira abertamente e há bastante tempo vários ditadores, radicalizou seu discurso a três semanas das eleições presidenciais americanas, com ameaças diretas ao "inimigo interno".
Uma das marcas registradas de Trump como presidente foi seu uso constante da frase "inimigo do povo" para descrever os meios de comunicação, ou ao menos os que não lhe agradam.
No domingo, o magnata, que está empatado nas pesquisas com a vice-presidente democrata Kamala Harris, surpreendeu ao dizer que o Exército deveria ser usado para combater um grupo muito mais amplo de americanos.
Perguntado na emissora Fox News, que é simpática a Trump, sobre se esperava uma votação pacífica, o republicano citou os inimigos internos.
"Temos gente muito má. Temos gente doente, lunáticos de esquerda radical. E acredito que eles são... e isso deveria ser facilmente tratado por... se necessário, pela Guarda Nacional ou, se realmente necessário, pelos militares, porque eles não podem deixar isso acontecer", disse, entrecortando as frases.
"O inimigo interno, na minha opinião, é mais perigoso que China, Rússia e todos esses países", acrescentou.
O único "inimigo" específico que Trump identificou foi o congressista democrata e candidato ao Senado Adam Schiff, a quem descreveu como "um sem-vergonha" e "grande escória".
Mesmo que fosse declarado vencedor no dia das eleições, Trump ainda não teria autoridade sobre a Guarda Nacional ou os militares.
Contudo, a sugestão de utilizar o Exército contra os americanos deixa evidente que sua mensagem está sendo radicalizada.
- A China como modelo? -
Há tempos Trump manifesta admiração em relação aos líderes russo Vladimir Putin, chinês Xi Jinping e norte-coreano Kim Jong Un.
Os três "estão no auge de seu jogo, são durões, inteligentes, impiedosos e vão proteger seu país", disse o republicano sobre os três em agosto.
A novidade está na ênfase crescente de emular as medidas repressivas internas de líderes autoritários em solo americano.
No mês passado, Trump afirmou que o país estava lotado de criminosos, apesar de as estatísticas o desmentirem, e acrescentou em um comício que a solução seria permitir que a polícia impusesse uma repressão violenta.
Uma de suas frases favoritas é dizer que Xi dirige a China com "mão de ferro".
"Controla 1,4 bilhão de pessoas sem piedade. Sem piedade. Sem brincadeiras", comentou Trump em janeiro deste ano, classificando Xi como um "homem brilhante".
Os democratas, e uma longa lista de ex-altos funcionários durante o mandato presidencial de Trump, multiplicam as advertências contra um segundo mandato do magnata.
E o ex-presidente se esforça pouco para rebatê-las. Perguntado em dezembro, na Fox, se tinha alguma intenção de criar uma ditadura, respondeu: "Não, exceto no primeiro dia."
- "Vingança" -
Durante anos, Trump afirmou que um tenebroso "Estado profundo" é a verdadeira força antidemocrática nos Estados Unidos e que ele está ali para defender os eleitores.
Mas foi ele quem quebrou as regras democráticas em 2020 ao se negar a reconhecer sua derrota eleitoral para Joe Biden.
Agora, semeia dúvidas sobre se as eleições de novembro serão justas, o que traz o temor de novos distúrbios similares à invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 por parte de seus simpatizantes.
Conforme o dia do pleito se aproxima, Trump sugere que, em seu segundo mandato, o Departamento de Justiça prenderia os fraudadores eleitorais, apesar de não haver provas que baseiem suas afirmações de que houve manipulação.
"QUANDO EU GANHAR, essa gente que FEZ TRAPAÇA será processada com todo o peso da Lei, o que incluirá longas penas de prisão para que esta Depravação da Justiça não volte a acontecer", publicou Trump em setembro.
Em junho, ele declarou ao apresentador de televisão "Dr. Phil" que "às vezes, a vingança pode estar justificada".
* AFP