A China bateu recorde e utilizou, ao todo, 125 aviões de guerra em um exercício militar de grande escala ao redor de Taiwan e ilhas periféricas nesta segunda-feira (14). A ação simulou o fechamento de portos importantes e evidenciou a situação tensa na região do Estreito de Taiwan, disseram autoridades.
Em comunicado, o Escritório de Assuntos de Taiwan da China disse que as atividades eram "uma punição" pelas afirmações contínuas do presidente taiwanês, Lai Ching-te, a respeito do "absurdo da independência de Taiwan". Em discurso no Dia Nacional, Lai Ching-te declarou seu compromisso de "resistir à anexação ou invasão" da China.
Os exercícios, denominados Espada Conjunta 2024B, "testam as capacidades operacionais conjuntas das tropas", afirmou o Ministério da Defesa chinês.
Algumas horas depois, o capitão Li Xi, porta-voz do comando leste do exército chinês, anunciou que as manobras terminaram "com sucesso".
— Estamos dispostos a trabalhar por uma reunificação pacífica com a maior sinceridade e com todos os nossos esforços. Mas nunca vamos prometer renunciar ao uso da força e jamais daremos o mínimo espaço para aqueles que militam pela independência de Taiwan — declarou Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa chinês, em um comunicado emitido após as manobras.
O presidente de Taiwan, Lai Ching-te, prometeu, nesta segunda-feira, que seu governo "continuará protegendo o sistema constitucional democrático e livre, resguardando a segurança nacional".
O Ministério de Defesa taiwanês condenou "o comportamento irracional e provocador" da China e afirmou que "enviou forças apropriadas para responder em consequência, para proteger a liberdade e a democracia e defender a soberania". As ilhas periféricas de seu território estão em "alerta máximo", destacou em um comunicado.
O governo chinês destacou que, com as manobras, Pequim pretende enviar uma "advertência firme aos atos separatistas das forças de independência taiwanesa"
— O independentismo de Taiwan e a paz no Estreito de Taiwan são duas coisas totalmente incompatíveis — disse Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.
Recorde
Taiwan detectou 125 aviões de combate chineses, anunciou o tenente Hsieh Jih-sheng, funcionário de alto escalão do serviço de inteligência do Ministério da Defesa. Ele destacou que o número representa "um recorde para apenas um dia".
O governo dos Estados Unidos condenou as manobras, que chamou de movimento "injustificável e com risco de escalada".
A União Europeia (UE) pediu "moderação" a todas as partes envolvidas e pediu que "evitem qualquer ação que possa aumentar ainda mais as tensões" no Estreito de Taiwan.
Nesta segunda-feira, Lai Ching-te convocou uma reunião de segurança com funcionários de alto escalão para discutir a resposta à "ameaça militar chinesa", disse Joseph Wu, secretário-geral do Conselho Nacional de Segurança de Taiwan. Wu destacou que as manobras chinesas são "inconsistentes com o direito internacional" e que exigiam um aviso prévio.
Lai, que assumiu a presidência em maio, falou abertamente sobre a defesa da soberania taiwanesa, o que irritou Pequim, que o considera um "separatista".
A China intensificou nos últimos anos suas atividades militares ao redor de Taiwan, com a mobilização de aviões de guerra e outras aeronaves militares, enquanto suas embarcações mantêm uma presença quase constante nas águas da ilha.
Pequim não descarta o uso da força para assumir o controle da ilha de governo democrático.
Entenda a separação de China e Taiwan e o posicionamento dos EUA
- Em 1º de outubro de 1949, o líder comunista Mao Zedong proclamou a fundação da República Popular da China, após derrotar os nacionalistas na guerra civil que eclodiu depois da Segunda Guerra Mundial e durou quatro anos.
- As tropas nacionalistas do Kuomintang, lideradas por Chiang Kai-shek, recuaram para Taiwan e formaram um governo. Os nacionalistas proibiram qualquer relação com a China continental.
- Pouco depois ocorreu a primeira de uma série de tentativas do Exército Popular de Libertação da China (EPL) de tomar as ilhotas de Quemoy e Matsu. No ano seguinte, Taiwan tornou-se um aliado dos Estados Unidos, então em guerra contra a China na Coreia.
- Em 5 de outubro de 1971, a China substituiu Taiwan na Organização das Nações Unidas (ONU).
- Já em 1979, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Taiwan e reconheceram Pequim. Quase toda comunidade internacional adotou a política de "uma só China", que exclui as relações diplomáticas com o governo nacionalista.
- Nesse cenário, Washington continuou sendo o principal aliado de Taiwan e seu principal fornecedor de equipamentos militares.