Nesta segunda-feira (5), a ex-primeira-ministra de Bangladesh Sheikh Hasina deixou o país em meio a uma série de protestos que mataram centenas. A líder de 76 anos, chamada de Dama de Ferro, tentou sufocar as grandes manifestações que sacudiam o país desde o início de julho, mas foi obrigada a fugir após um dia de distúrbios que deixou quase cem mortos, no domingo (4).
Em uma mensagem à nação exibida pela televisão estatal, o comandante do Exército, general Waker-Uz-Zaman, declarou que Hasina renunciou e que os militares formarão um "governo provisório".
— O país sofreu muito, a economia foi afetada, muitas pessoas morreram. É o momento de acabar com a violência. Espero que a situação melhore depois do meu discurso — disse Waker.
Quem é Sheikh Hasina
Hasina é filha de Sheikh Mujibur Rahman, que se tornou primeiro-ministro de Bangladesh após liderar a luta pela independência do Paquistão em 1971. Em agosto de 1975, Rahman sofreu um golpe de Estado e militares mataram quase toda a sua família. Hasina não foi alvo do ataque porque, no momento do ataque, viajava à Europa com o marido, filhos e a irmã. Ela se exilou na casa do embaixador de Bangladesh na então Alemanha Ocidental e depois viajou para a Índia, onde morou por seis anos como asilada política.
Em 1981, aos 33 anos, Hasina voltou ao país para liderar o partido Awami League, partido nacionalista de centro que seu pai comandava. Nesse período assume a luta pela democracia, unindo forças assim com o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP), de centro-direita, de Khaleda Zia. Passou por vários momentos de prisão domiciliar até a queda do ditador militar Husain Muhamad Ershad em 1990.
A aliança entre as duas não durou por muitos anos, e a rivalidade entre elas passou a nortear a política de Bangladesh nos últimos anos.
Saídas e chegadas ao poder
Em 1996, Hasina foi eleita pela primeira vez. Nos anos 2000 foi derrotada por sua rival e antiga aliada. Em 2007, houve um golpe de Estado no país e ambas foram detidas, acusadas de corrupção. As denúncias acabaram retiradas.
Em 2008, Sheikh Hasina retornou ao poder após vencer as eleições com ampla margem — conquistou 230 dos 299 assentos disponíveis na Câmara dos Deputados de Bangladesh. Na época, era aliada do Partido Jatiya, que hoje está na oposição. Hasina não deixou o poder desde então
Desde 2009, Bangladesh possui um crescimento anual superiores a 6%, igualando a renda per capita da índia em 2021, com 95% de sua população tendo acesso a energia elétrica.
Protestos
Entre os problemas vividos por ela no seu governo, encerrado nesta segunda-feira (5), estão os protestos estudantis contra cotas para empregos no setor público, somado ao desemprego de 18 milhões de jovens e o boicote da oposição as últimas eleições.
Hasina também enfrentou problemas com o islamismo radical do país muçulmano após um ataque em um restaurante que matou 22 pessoas em 2016 e com a execução de cinco dirigentes islamistas e um opositor na última década, provocando protestos que deixaram diversos mortos.
Em 2021 o governo americano adotou sanções contra uma unidade de força de segurança e sete comandantes com acusações de violações de direitos humanos.
Ainda em 2018, a ex-primeira-ministra foi condenada a 17 anos de prisão por corrupção. Outros membros do partido de Hasina estão presos acusados pelo mesmo crime.