Centenas de pessoas participaram, nesta sexta-feira (2), do funeral do líder do grupo terrorista Hamas, Ismail Haniyeh, que morreu em um ataque em Teerã.
Haniyeh, que morava em Doha, capital do Catar, tinha papel importante nas negociações para um possível acordo de trégua em Gaza, nas quais Catar, Egito e Estados Unidos atuam como mediadores.
O Irã afirmou que tem o dever de "buscar vingança" e que a morte de Haniyeh coloca em dúvida a viabilidade das negociações, após quase 10 meses da guerra desencadeada por um ataque do Hamas no sul de Israel.
Centenas de pessoas oraram na mesquita Imam Muhammad bin Abdul Wahhab, a maior do Catar, na cidade de Doha, sob um calor de 44ºC.
— Haniyeh era um símbolo (...), o povo está indignado — declarou Taher Adel, um estudante da Jordânia de 25 anos.
O caixão do líder do Hamas foi coberto com uma bandeira palestina e sepultado em um cemitério em Lusail, ao norte de Doha.
Haniyeh e um de seus seguranças morreram na madrugada de quarta-feira (31) em um ataque com explosivos contra a residência em que estavam em Teerã, informou a Guarda Revolucionária do Irã. O dirigente de 62 anos, exilado entre Catar e Turquia, estava no local para a cerimônia de posse do presidente iraniano, Masud Pezeshkian.
O jornal americano New York Times, que mencionou autoridades de países do Oriente Médio e dos Estados Unidos que falaram sob a condição de anonimato, informou, no entanto, que Haniyeh morreu na explosão de uma bomba que estava escondida na residência.
O grupo Hamas e o governo do Irã atribuíram o ataque a Israel, que reivindicou algumas horas antes um bombardeio contra Beirute, capital do Líbano, que matou Fuad Shukr, comandante militar do movimento libanês Hezbollah, aliado do Hamas e apoiado pelo Irã.
O porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, afirmou na quinta-feira (1º) que o ataque no Líbano foi o único efetuado por seu país na madrugada de quarta-feira no Oriente Médio.
Mas os acontecimentos inflamaram as tensões em uma região onde a guerra na Faixa de Gaza aumentou consideravelmente as hostilidades entre Israel e os movimentos armados próximos ao Irã na Síria, Líbano, Iraque e Iêmen.
"Linhas vermelhas"
O corpo de Haniyeh foi transportado até a mesquita de Doha antes da grande oração de sexta-feira, o dia mais importante da semana na tradição islâmica. O caixão estava protegido por um cordão de segurança significativo.
Turquia e Paquistão decretaram um dia de luto nesta sexta-feira em memória de Haniyeh e o Hamas prometeu um "dia de raiva furiosa" para coincidir com o enterro.
O vice-primeiro-ministro do Irã, Mohamad Reza Aref, e o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, compareceram ao funeral.
Na quarta-feira, um encontro em Teerã reuniu líderes iranianos e representantes de formações aliadas na região, com o objetivo de chegar a acordo sobre uma posição conjunta, indicou uma fonte próxima do Hezbollah libanês sob anonimato.
— Foram mencionados dois cenários, uma resposta simultânea do Irã e seus aliados ou uma resposta escalonada de cada parte — acrescentou a fonte.
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu na quarta-feira um "castigo duro" para Israel e o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, alertou no dia seguinte que Israel cruzou as "linhas vermelhas" e que uma resposta de seu grupo é "inevitável".
Os rebeldes huthis do Iêmen, também aliados do Hamas, prometeram uma "resposta militar" à "perigosa escalada" provocada, segundo eles, por Israel.
Já o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que o país está preparado "para qualquer cenário, tanto defensivo como ofensivo".
Netanyahu prometeu destruir o Hamas em represália ao ataque de 7 de outubro contra o sul do país, que desencadeou a guerra em Gaza.
Os comandos islamistas mataram 1.197 pessoas, a maioria civis, no ataque de outubro, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses, e sequestraram 251. O Exército israelense afirma que 111 permanecem em cativeiro em Gaza, mas que 39 estariam mortas.
A ofensiva militar de Israel contra Gaza deixou 39,4 mil mortos até o momento, segundo o Ministério da Saúde do território.
Negociações em aberto
O Catar abriga o gabinete político do Hamas com a aprovação dos Estados Unidos desde 2012, quando o grupo palestino fechou sua representação em Damasco. Mas este processo permanece em dúvida após a morte de Haniyeh.
"Como uma mediação pode ter sucesso quando uma parte assassina o negociador da outra parte?", questionou o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdelrahman al Thani.
A comunidade internacional pediu calma e insistiu nos apelos por um cessar-fogo em Gaza.