As autoridades guatemaltecas investigam denúncias de possíveis abusos contra crianças na seita Lev Tahor, um grupo judaico ultraortodoxo também acusado de casamentos forçados e gravidez de adolescentes, conforme informou uma funcionária nesta segunda-feira (28).
Na sexta-feira, com uma ordem judicial, as autoridades tentaram verificar o estado dos menores, mas os membros da comunidade restringiram o acesso à sua propriedade localizada no município de Oratorio, cerca de 60 km a sudoeste da capital.
"Estamos muito preocupados com a situação dentro da comunidade", afirmou Lucrecia Prera, chefe da área de infância e adolescência da Procuradoria-Geral da Nação.
"Há denúncias de casamentos forçados, meninas grávidas e maus-tratos dentro da comunidade", acrescentou.
A Procuradoria busca verificar as denúncias, muitas delas anônimas, contra o grupo que se estabeleceu em Oratorio em 2014, após ser expulso de um vilarejo indígena devido a um choque cultural e de costumes com os habitantes locais, e passar algum tempo em um prédio na capital.
- "Resistência" à verificação -
O grupo Lev Tahor se mudou para Oratorio após um mandado de busca realizado por fiscais e policiais em um prédio e outros imóveis pertencentes à seita.
As autoridades explicaram na época que a operação foi realizada a pedido de Israel, com o objetivo de localizar uma menina e verificar se havia casos de maus-tratos infantis.
O Lev Tahor foi formado na década de 1980, e seus membros, que vestem túnicas escuras e praticam uma versão ultraortodoxa do judaísmo, se estabeleceram na Guatemala em 2013.
O grupo descreve as investigações contra eles como "perseguição religiosa" e afirma que são instigadas por Israel.
Embora as denúncias existam desde 2018, as ações mais recentes foram iniciadas por causa de um adolescente estrangeiro que, no início deste ano, "pediu ajuda" para voltar ao seu país após denunciar que foi obrigado a se casar aos 13 anos, detalhou Prera.
"Existe essa resistência das autoridades em poder estabelecer o que está acontecendo", acrescentou a funcionária.
A Procuradoria estima que cerca de 100 menores vivem na comunidade, que seria composta por aproximadamente 50 famílias de Guatemala, Estados Unidos, Canadá e outros países.
Na sexta-feira, um juiz conseguiu entrar na propriedade e observou 29 crianças, mas, segundo Prera, "não podemos ter certeza se as denúncias [de abusos] são verdadeiras ou falsas, já que não nos foi permitido realizar nosso trabalho da forma que corresponde".
As autoridades também buscam verificar as condições de saúde das crianças devido a denúncias de possível desnutrição e se elas possuem documentos de identidade.
- "Intolerância Religiosa" -
Após a diligência de sexta-feira, o Lev Tahor acusou a Procuradoria nas redes sociais de estar "conduzindo uma campanha criticável de perseguição contra nossa comunidade, motivada unicamente por intolerância religiosa e discriminação".
O grupo afirmou ser "imprescindível destacar a participação do Estado de Israel na instigação dessas ações".
Também atacou a Procuradoria por afirmar "desconhecer" a situação na comunidade. "Não podemos permitir que continuem com essa perseguição religiosa sob a fachada de preocupações sem fundamento", disse.
Prera negou que a investigação constitua uma "perseguição religiosa" e expressou que o objetivo é "zelar pela proteção integral" dos menores.
* AFP