Dez migrantes morreram devido ao transbordamento de um rio em uma área isolada do Panamá, perto da costa caribenha e da fronteira com a Colômbia, informou a Polícia de Fronteiras (Senafront) nesta quarta-feira (24) .
"Nos afluentes ribeirinhos próximos à comunidade de Carreto [na região indígena de Guna Yala] foram observados 10 corpos de migrantes que morreram por afogamento em consequência de uma cabeceira de água (transbordamento de um rio)", disse a Senafront em um comunicado.
"O crime organizado transnacional através de colaboradores locais destas comunidades costeiras do Caribe insiste em utilizar medidas não autorizadas, colocando a vida destas pessoas em sério risco", acrescenta o comunicado.
A nota não especifica se os migrantes falecidos cruzaram a selva de Darién - convertida em corredor para quem tenta chegar aos Estados Unidos vindos da América do Sul - ou se chegaram em alguma embarcação. Também não especifica as nacionalidades das vítimas.
Em 2023, mais de meio milhão de pessoas atravessaram esta selva, segundo números oficiais, apesar de os migrantes enfrentarem perigos como rios caudalosos, animais selvagens e grupos criminosos que roubam, estupram e matam.
A maioria dos migrantes que atravessam Darién são venezuelanos, embora também se destaquem equatorianos, colombianos, haitianos e chineses.
As autoridades panamenhas não sabem com exatidão o número de pessoas que morre nesta travessia devido à falta de acessibilidade do terreno e porque às vezes os corpos são devorados por animais.
- Trilhas fechadas -
Nas últimas semanas, o governo panamenho fechou diversas trilhas usadas por pessoas que atravessam a selva e abriu um "corredor humanitário" com o objetivo de controlar os migrantes e evitar que sejam atacados por grupos criminosos.
Com este "corredor humanitário", as autoridades panamenhas buscam também garantir que os migrantes cheguem em segurança a um abrigo onde sejam atendidos por organizações internacionais como a Cruz Vermelha, a Unicef ou o Acnur.
O fechamento das trilhas foi criticado pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que garantiu que "arames farpados na selva" só levarão "afogados ao mar".
- Deportações "iminentes" -
Para tentar reduzir este fluxo migratório, Panamá e Estados Unidos assinaram em 1º de julho um acordo em que Washington se compromete a financiar com 6 milhões de dólares (33,4 milhões de reais) a deportação e expulsão do país centro-americano de pessoas que cruzem Darién.
O início das "deportações e expulsões" em voos fretados e comerciais de migrantes é "iminente", alertou na terça-feira a funcionária regional de Segurança Interna dos Estados Unidos, Marlen Piñeiro.
"Já visitamos todos os aeroportos [...], visitamos Darién, visitamos locais onde vamos ter as pessoas, também conversamos com as companhias aéreas, os empreiteiros, e já estamos nos detalhes finais", acrescentou Piñeiro.
No entanto, na quinta-feira passada, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, descartou a repatriação "forçada" dos migrantes.
"As pessoas não querem vir e ficar no Panamá, as pessoas querem ir para os Estados Unidos, e se essa questão se tornar uma situação para nós, pode acontecer em menor ou maior grau, porque é para lá que irão", afirmou Mulino.
Durante a campanha eleitoral, ele prometeu "fechar" Darién, fronteira natural de 266 km e 575 mil hectares com a Colômbia.
- Limpeza -
O Panamá prepara, em colaboração com os Estados Unidos, um programa de limpeza do Darién, uma selva de 575.000 hectares que foi afetada pela passagem de migrantes, anunciou nesta quarta o ministro do Meio Ambiente, Juan Carlos Navarro.
Segundo Navarro, cada migrante deixa em média 2,2 quilos de lixo ao atravessar esta densa floresta, que abriga uma grande variedade de espécies de flora e fauna.
O ministro lamentou as mortes de migrantes: "Dez vidas a mais que são perdidas devido ao tráfico irregular e desumano através do Darién. Precisamos colocar ordem nessas áreas, acabar com esse tráfico o mais rápido possível e limpar a natureza", afirmou à AFP.
O projeto, de acordo com Navarro, inclui limpeza, restauração ambiental das áreas danificadas e apoio econômico às comunidades locais.
* AFP