Chuvas torrenciais e ventos fortes dificultaram, nesta quarta-feira (31), as buscas por sobreviventes dos deslizamentos de terra nas plantações de chá no sul da Índia, onde morreram ao menos 160 pessoas, a maioria trabalhadores e suas famílias.
Chuvas torrenciais de monções atingiram o estado costeiro de Kerala nos últimos dias, bloqueando as estradas de acesso à região do desastre no distrito de Wayanad.
A única ponte que liga as cidades mais afetadas, Chooralmala e Mundakkai, desapareceu e as equipes de resgate tiveram que retirar os corpos em macas amarradas a tirolesas elevadas precariamente acima das águas.
Várias pessoas que conseguiram fugir foram surpreendidas pela cheia de um rio, disse à AFP o socorrista voluntário Arun Dev, em um hospital que atendia os sobreviventes.
"Aqueles que escaparam foram levados junto com suas casas, igrejas e escolas", disse ele.
Os socorristas recuperaram 160 corpos, informou aos jornalistas o ministro regional das Finanças, K. Rajan.
O alto oficial da polícia local, M.R. Ajith Kumar, disse à AFP que cerca de 500 pessoas foram resgatadas desde os sucessivos deslizamentos de terra registrados na região na madrugada de terça-feira.
"Ainda existem grandes áreas que precisam ser exploradas e rastreadas para ver se pessoas viviam lá ou não", acrescentou.
Wayanad é conhecida por suas plantações de chá nas áreas montanhosas, onde há muitos trabalhadores no plantio e na colheita.
Várias plantações foram atingidas pelos dois deslizamentos de terra.
Casas de tijolos que abrigam trabalhadores temporários foram cercadas por um muro de lama enquanto seus familiares dormiam.
O deslizamento cobriu carros, amassou barras de aço e espalhou destroços pelo local do desastre.
"O fluxo de resíduos do desastre é extremamente violento, tornando a sobrevivência muito difícil", disse à AFP o especialista em geofísica Dave Petley, da Universidade de Hull.
A catástrofe "foi agravada pela hora - muito cedo, quando as pessoas estavam dormindo - e pelas estruturas frágeis que oferecem pouca proteção", acrescentou.
Mais de 3.000 pessoas estavam abrigadas em acampamentos nos arredores de Wayanad, segundo o governo estadual.
Nos dias anteriores ao desastre, a área recebeu pelo menos 572 milímetros de chuva, segundo o chefe de gabinete do estado, Pinarayi Vijayan.
A agência de desastres de Kerala disse que mais chuvas e ventos fortes são esperados na quinta-feira, com chances de "danos a estruturas inseguras" em outras áreas do estado.
- Destruição -
As chuvas associadas às monções no sul asiático geralmente duram de junho a setembro, aliviam o calor sufocante do verão e recarregam os reservatórios de água.
Embora sejam vitais para a agricultura e a segurança alimentar dos dois bilhões de habitantes da região, também costumam provocar enchentes e deslizamentos de terra.
A frequência destas catástrofes naturais aumentou nos últimos anos e os especialistas indicam que as mudanças climáticas agravaram o fenômeno.
"Eventos como deslizamentos de terra são resultado de chuvas intensas desencadeadas pelas mudanças climáticas", disse à AFP Kartiki Negi, especialista do instituto indiano Climate Trends.
"A Índia continuará vivendo mais e mais impactos como estes no futuro", acrescentou.
Além disso, a construção de barragens, os projetos urbanos e o desmatamento na Índia pioram suas consequências.
As forte chuvas também afetaram este mês Mumbai, capital financeira indiana.
Cerca de 500 pessoas morreram nos arredores de Kerala em 2018, nas piores inundações em um século neste estado.
* AFP