O submarino russo de propulsão nuclear "Kazan", chegou nesta quarta-feira (12) a Cuba, como parte de um destacamento naval para uma visita de cinco dias à ilha, em meio a um aumento das tensões entre Washington e Moscou.
Minutos depois das 10h locais (11h no horário de Brasília), o "Kazan" entrou na baía de Havana exibindo parte de seu casco e sua torre com a bandeira cubana, constatou a AFP.
Duas horas antes, o petroleiro "Pashin" chegou na vanguarda da flotilha, seguido pelo rebocador de resgate "Nikolai Chiker" pintado com as cores da bandeira russa e a fragata "Almirante Gorshkov", que chegou acompanhada por salvas de boas-vindas.
O Ministério das Forças Armadas Revolucionárias (Minfar) indicou na semana passada que esses navios não transportam armas nucleares e não representam uma "ameaça à região".
Antes de entrar no porto de Havana, "um grupo tático heterogêneo de embarcações de ataque", composto pela fragata e pelo submarino, "completou um exercício sobre o uso de armas de mísseis de alta precisão", disse o Ministério da Defesa russo, em um comunicado citado pela agência de notícias Interfax.
Pessoas que passavam pelo emblemático Malecón de Havana ficaram surpresas ao ver o submarino navegando a curta distância. "Estamos em guerra todos nós (...) estamos em guerra com o picadinho, com o pão, com tudo. O mundo está de cabeça para baixo", exclamou Lázaro, um cubano de 51 anos que costuma pescar naquela área.
Por sua vez, a subsecretária de imprensa do Pentágono, Sabrina Singh, disse à imprensa que Washington tem estado acompanhando esses movimentos.
"Não é uma surpresa" porque os russos já fizeram esse tipo de escalas no porto da ilha caribenha antes, acrescentou. Singh disse que essas visitas "não representam uma ameaça para os Estados Unidos", cuja costa no estado da Flórida fica a cerca de 160 quilômetros de Havana.
Já o conselheiro de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan, observou que esta frota "tem um submarino" de propulsão nuclear que as frotas anteriores "não tinham".
- Chanceleres em Moscou -
A chegada desta frota ocorre no mesmo dia em que o ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, e seu homólogo russo, Sergei Lavrov, se reuniram em Moscou, informou a Chancelaria de Cuba.
Uma declaração da parte cubana indicou que Rodríguez expressou a Lavrov "a rejeição de seu governo à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte em direção à fronteira russa", que, segundo ele, "levou ao atual conflito na Europa, e especialmente entre Moscou e Kiev".
Além disso, defendeu "uma solução diplomática, construtiva e realista para a crise existente na região".
A visita da fragata russa "cumpre estritamente as normas internacionais das quais Cuba é Estado parte" e responde às "históricas relações de amizade" entre Havana e Moscou, afirmou o Exército cubano na semana passada ao anunciar a visita.
A visita deste destacamento naval ocorre um mês depois de o presidente Miguel Díaz-Canel ter desejado sucesso a Moscou no conflito com a Ucrânia, durante uma visita à Rússia em que acompanhou o presidente Vladimir Putin no desfile comemorativo da vitória soviética sobre os nazistas em 1945.
"Desejamos à Rússia sucesso na condução da operação militar especial", disse Díaz-Canel, citado pela agência russa de notícias TASS. Ele condenou "a manipulação geopolítica" dos Estados Unidos e a "ameaça da Otan de se aproximar das fronteiras" da Rússia.
- Relação estratégica -
A relação política entre estes dois antigos aliados da Guerra Fria está revitalizada desde novembro de 2022, quando Díaz-Canel se reuniu em Moscou com o presidente Putin, que considera a relação com a ilha "estratégica".
Desde o início desta aproximação, diversas delegações oficiais e empresariais viajaram aos dois países para promover projetos de investimento.
Outra flotilha da Marinha russa, que incluía a fragata e o rebocador, visitou Cuba em 2019, em um momento de grande tensão entre Havana e Washington, após a chegada ao poder do republicano Donald Trump (2017-2021).
Durante mais de seis décadas, Washington impôs um embargo comercial a Cuba que Trump reforçou ao incluir a ilha na lista de patrocinadores do terrorismo.
Joe Biden, o seu sucessor democrata, manteve a posição e não alterou substancialmente essas sanções.
A Rússia também enfrenta sanções comerciais dos Estados Unidos e da União Europeia após a guerra com a Ucrânia.
O navio-patrulha da Marinha Real do Canadá HMCS Margaret Broooke também chegará na sexta-feira à ilha, no contexto do 80º aniversário das relações diplomáticas entre Cuba e Canadá, informou o Ministério das Relações Exteriores cubano.
* AFP