A empresa Chiquita Brands, uma das líderes mundiais do cultivo e distribuição de bananas, considerada responsável de financiar o grupo paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) por um júri nos Estados Unidos, anunciou nesta terça-feira (11) que apelará da decisão anunciada na véspera.
"Embora nos sintamos decepcionados com esta sentença, continuamos confiando em que nossa posição legal vai prevalecer em última instância", afirmou a empresa americana em nota enviada à AFP.
Em seu veredicto na segunda-feira, um júri convocado por uma corte federal da Flórida, ordenou que a Chiquita indenize em 38,3 milhões de dólares (cerca de R$ 205 milhões) as famílias de oito pessoas assassinadas pelas AUC, responsáveis por outras centenas de mortes na Colômbia.
"Nossos clientes arriscaram suas vidas quando processaram a Chiquita, depositando sua fé no sistema de justiça dos Estados Unidos", declarou Agnieszka Fryszman, uma das advogadas dos denunciantes.
"O veredicto não trará de volta os maridos e filhos que foram assassinados, mas deixa as coisas claras e coloca a responsabilidade do financiamento ao terrorismo onde deve estar: na Chiquita", acrescentou, em nota.
A empresa gigante do setor de banana já tinha admitido em 2017 aos tribunais americanos que financiou entre 1997 e 2004 as AUC, organização que na época era considerada terrorista pelo governo dos Estados Unidos, o que tornou seu apoio um crime federal.
Este apoio foi "prolongado, regular e substancial", segundo o Departamento de Justiça, pelo que a empresa recebeu uma multa de US$ 25 milhões (cerca de R$ 134 milhões).
A empresa alegou, no entanto, ter sido vítima de extorsão ao pagar o dinheiro ao grupo paramilitar e que o fez para proteger seu pessoal e suas instalações na região de Urabá, no noroeste da Colômbia.
As AUC espalharam o terror na Colômbia na década de 1990, durante uma guerra contra as guerrilhas de esquerda, algumas vezes auxiliadas por membros das Forças Armadas.
Quase 20 mil combatentes das AUC foram desmobilizados entre 2003 e 2006, durante o governo do então presidente Álvaro Uribe (2002-2010).
Os oito demandantes do caso na Flórida alegaram que a Chiquita transferiu quase 2 milhões de dólares (R$ 11 milhões) para as AUC e inclusive ajudou os paramilitares a transportar armas e drogas, apesar de saber que a milícia estava envolvida em graves violações dos direitos humanos.
O júri aceitou o argumento de que o dinheiro repassado aos paramilitares foi utilizado para cometer homicídios, sequestros, extorsões, torturas e desaparecimentos forçados.
Marco Simons, conselheiro geral da ONG EarthRights, que auxiliou os demandantes, comemorou o veredicto, considerando-o "uma mensagem poderosa às empresas de todo o mundo: se beneficiar de abusos contra os direitos humanos não ficará impune".
Outros processos civis contra a Chiquita estão em curso nos Estados Unidos pelos mesmos motivos. Centenas de demandantes participam deles.
* AFP