O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, comemorou nesta sexta-feira (31) a autorização condicional que obteve dos Estados Unidos para usar armas entregues por Washington contra alvos em território russo.
Um alto funcionário dos Estados Unidos revelou na quinta-feira que o presidente Joe Biden deu luz verde para que a Ucrânia use essas armas contra alvos fronteiriços à república soviética, "para fins de contra-ataque na província de Kharkiv", que enfrenta uma ofensiva russa.
"Este é um passo à frente em direção ao objetivo [...] de defender nosso povo que vive nas aldeias ao longo da fronteira" com a Rússia, afirmou Zelensky, durante a terceira cúpula Ucrânia-Norte da Europa em Estocolmo.
As potências ocidentais mostraram seu crescente apoio, sob certas condições, ao uso de suas armas pela Ucrânia, confrontada com uma invasão russa há mais de dois anos, contra áreas russas próximas à fronteira.
Após o anúncio dos Estados Unidos, a Alemanha também autorizou nesta sexta-feira o uso de seus equipamentos contra alvos militares na Rússia, especialmente em resposta à ofensiva que Moscou vem realizando desde o início de maio na província de Kharkiv, no nordeste.
O porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit, lembrou que a Ucrânia tem o "direito" de se defender com as armas que possui, incluindo as que foram entregues pelos aliados.
A decisão de Biden representa uma mudança radical, já que até agora Washington temia que essa autorização arrastasse a Otan para um conflito direto com a Rússia.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que "armas de fabricação americana já estão sendo usadas para tentar realizar ataques no território russo".
Isso é uma prova "do alcance do envolvimento dos Estados Unidos neste conflito", acrescentou.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, declarou nesta sexta-feira que Washington continuará "adaptando" seu apoio militar à Ucrânia, embora mantenha sua posição sobre a proibição do uso de suas armas dentro do território russo.
Blinken também indicou que a Otan responderá ao aumento dos ataques híbridos russos contra vários países aliados, após uma reunião informal entre os ministros das Relações Exteriores da aliança militar em Praga.
- 'Escalada' -
Na quinta-feira, a Rússia criticou a Otan por lançar "um novo ciclo de escalada".
No entanto, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, minimizou as ameaças russas de escalada na Ucrânia e afirmou que isso é apenas parte dos "esforços do presidente" russo, Vladimir Putin, "para impedir que os aliados da Otan apoiem a Ucrânia".
Stoltenberg lembrou que outros países já apoiaram o uso de armas ocidentais para atacar o solo russo, como a França e o Reino Unido, embora alguns continuem se opondo, como a Itália.
O chanceler turco, Hakan Fidan, declarou que seu país apoia "a continuação de ajuda à Ucrânia", mas não quer "que a Otan participe dessa guerra".
Stoltenberg disse ainda que os aliados da Otan forneceram "aproximadamente 40 bilhões de euros [R$ 228 bilhões] por ano em assistência militar à Ucrânia" desde o início da invasão.
"Devemos manter pelo menos esse nível de apoio todos os anos, pelo tempo que for necessário", disse ele.
Enquanto isso, os ministros das Relações Exteriores do G7, um grupo das sete maiores economias que reúne as principais potências ocidentais e o Japão, disseram nesta sexta-feira que estavam "gravemente preocupados" com a crescente cooperação entre a Rússia e a Coreia do Norte, instando o fim das "transferências ilegais de armas".
- 880 km² conquistados -
Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, próxima à fronteira com a Rússia, é alvo quase diário de bombardeios, a maioria proveniente do território russo.
Nas últimas horas, seis pessoas foram mortas na cidade, informaram as autoridades provinciais nesta sexta-feira, e 23 ficaram feridas anteriormente.
Na Suécia, Zelensky insistiu que a Ucrânia voltaria "mais forte graças ao apoio" de seus aliados.
No momento, a situação na linha de frente não é favorável ao Exército ucraniano, que está enfrentando desgaste e falta de munição.
O ministro da Defesa da Rússia, Andrei Belorusov, disse que as forças russas tomaram 880 quilômetros quadrados na Ucrânia até agora neste ano, e 28 locais na província de Kharkiv em maio.
Apesar de seu progresso, a Rússia ainda não fez um avanço significativo nessa área.
Em Donetsk, uma província do leste da Ucrânia parcialmente sob o controle de Moscou, cinco pessoas morreram e outras duas ficaram feridas por bombardeios ucranianos nesta sexta-feira, de acordo com autoridades nomeadas pela Rússia no local.
* AFP