O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou, nesta segunda-feira (8), que já há data para invadir Rafah, no sul da Faixa de Gaza, apesar da oposição dos Estados Unidos e em um momento em que Israel e o movimento palestino Hamas negociam uma trégua.
Depois de mais de seis meses de guerra, o Hamas examina uma proposta elaborada pelos países mediadores que, em uma primeira etapa, estabelece um cessar-fogo de seis semanas, informou uma fonte do grupo terrorista.
O plano propõe, ainda, a libertação na primeira fase de 42 reféns israelenses sequestrados pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro em troca da soltura de 800 a 900 palestinos presos em Israel e que aumente a entrada de ajuda humanitária a Gaza.
Mas a negociação em curso não freou os planos de Israel de invadir a cidade de Rafah, onde se amontoam cerca de 1,5 milhão de palestinos que fugiram dos combates entre o Exército israelense e o Hamas, que governa o território desde 2007.
"Isso vai acontecer, há uma data", insistiu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em um vídeo. Suas declarações ocorrem no dia seguinte ao seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, anunciar a retirada das tropas de Khan Yunis, também no sul, para preparar as "próximas missões (...) na região de Rafah".
Os Estados Unidos, o principal aliado de Israel, reiteraram quase imediatamente sua oposição ao plano de invadir Rafah.
— Expressamos claramente a Israel que acreditamos que uma invasão militar em larga escala de Rafah teria um efeito enormemente prejudicial para os civis e que, em última instância, afetaria a segurança de Israel — declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
O presidente francês, Emmanuel Macron, seu contraparte egípcio, Abdel Fatah al Sissi, e o rei Abdullah II da Jordânia, alertaram Israel para as "consequências" desta invasão.
"Momento oportuno" para um acordo
As conversações, que visam a alcançar uma trégua e a libertação dos reféns mantidos em Gaza desde o início da guerra, em 7 de outubro, geraram expectativa, mas um dirigente do Hamas informou que "não se pode falar de avanços concretos até agora".
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al Ansari, se disse mais "otimista" do que há alguns dias, em declarações à emissora BBC, mas disse que as negociações estão longe da "reta final".
O ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, julgou por sua vez que este é o "momento oportuno" para se chegar a um acordo sobre os reféns.
A Casa Branca, por sua vez, informou que os negociadores - EUA, Egito e Catar - apresentaram uma proposta de acordo ao grupo terrorista e que "agora depende do Hamas para que seja bem-sucedida", segundo o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.
A primeira fase do cessar-fogo também incluiria o retorno ao norte de Gaza dos palestinos deslocados e a entrada diária de entre 400 a 500 caminhões de ajuda humanitária.
O retorno para "casa"
Em Khan Yunis, no sul de Gaza, alguns palestinos voltaram, depois que o Exército israelense anunciou sua retirada, no domingo, após meses de intensos combates.
— Esperávamos encontrar nossa casa ou seus restos e recuperar alguma coisa para nos cobrir. Mas não encontramos a casa — disse Safa Qandil, 46 anos, que perdeu o filho e a nora grávida.
A guerra começou em 7 de outubro, quando o Hamas invadiu o sul de Israel e executou um ataque sem precedentes, no qual assassinou 1.170 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem baseada em dados oficiais israelenses.
Os combatentes palestinos também sequestraram mais de 250 pessoas, das quais 129 ainda estão retidas em Gaza, incluindo 34 que as autoridades israelenses acreditam que foram mortas.
Em retaliação, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva que matou 33.207 pessoas em Gaza, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde desse território palestino, governado pelo Hamas.
A guerra também provocou uma catástrofe humanitária no território de 2,4 milhões de habitantes, sitiado por Israel, onde a ONU teme que ocorra fome generalizada.
Diante desse desastre humanitário, a Nicarágua decidiu levar a Alemanha perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ), o mais alto tribunal da ONU, para denunciar seu apoio a Israel.
Nesta segunda, Manágua considerou "patético" que a Alemanha entregue armas ao governo israelense ao mesmo tempo em que fornece ajuda humanitária a Gaza. Berlim tachou a acusação de "extremamente parcial".