A tensão diplomática entre a Venezuela e a Argentina atingiu um novo patamar após o presidente Nicolás Maduro proibir que aviões argentinos sobrevoem o espaço aéreo venezuelano. A medida foi uma retaliação ao que o governo da Venezuela chamou de "roubo descarado" do Boeing 747 da estatal Emtrasur, confiscado em um imbróglio envolvendo as sanções dos Estados Unidos.
Segundo o portal Estadão, essa proibição afeta não apenas voos comerciais, mas também voos particulares e rotas turísticas para destinos populares como Punta Cana, Miami e Nova York. O governo argentino, por sua vez, prometeu uma resposta à altura iniciando ações diplomáticas contra o governo de Maduro, afirmou o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni.
Contudo, a Venezuela reafirma sua decisão de não recuar. Na rede social X (antigo Twitter), o ministro das Relações Exteriores venezuelano Yvan Gil chamou o governo argentino de neonazista.
"O governo neonazi da Argentina não só é submisso e obediente ao senhor imperial como tem um porta-voz 'cara de pau': Ardoni finge ignorar as consequências dos atos de pirataria e roubo contra Venezuela, que foram advertidas repetidamente antes do ato criminoso cometido contra Emtrasur”, escreveu o chanceler.
As consequências dessa crise podem impactar não apenas as companhias aéreas argentinas, mas todas as empresas que operam voos sobre o território venezuelano. As alterações nas rotas para alguns destinos não devem causar um aumento significativo no tempo de voo, mas as companhias aéreas estão avaliando os custos adicionais devido ao maior consumo de combustível.
Entenda como começou
A origem da crise remonta a apreensão do Boeing 747 da Emtrasur, destinado ao transporte de cargas. Após quase dois anos retido no Aeroporto Internacional de Ezeiza, na Grande Buenos Aires, a aeronave foi enviada para a Flórida no mês passado.
Os Estados Unidos afirmaram que a aeronave, fabricada no país, foi fornecida pela companhia aérea Mahan Air, do Irã, que é sujeita a sanções devido ao seu apoio às Forças Quds da Guarda Revolucionária Iraniana, considerada uma organização terrorista por Washington. A venda teria acontecido sem autorização do governo americano.
— (A proibição dos voos) foi uma represália da Venezuela pelo governo argentino ter aceitado a ordem de confisco dos Estados Unidos para o Boeing 747 da Emtrasur, vinculado à Guarda Revolucionária do Irã — disse o porta-voz do governo argentino, conforme informações do Estadão.
O avião chegou em junho de 2022 à Argentina e foi retido por ordem judicial. Inicialmente, os 19 tripulantes (14 venezuelanos e cinco iranianos) acabaram detidos sob suspeita de financiar atividades terroristas, mas foram posteriormente libertados por falta de provas.
Os Estados Unidos reivindicaram a posse da aeronave, que teve a custódia oficialmente transferida no mês passado e foi enviada para o sul da Flórida. O Departamento de Justiça americano afirmou na época que o destino final do avião seria descartado.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela rejeitou categoricamente o confisco da aeronave, atribuindo-o a uma conspiração entre os governos dos Estados Unidos e da Argentina. A Venezuela prometeu adotar todas as medidas necessárias para restaurar a justiça e "restituir a aeronave para o seu legítimo proprietário", disse nota escrita pela pasta.