A Rússia realiza neste domingo (17) o último dia das eleições presidenciais, que apontam para a reeleição de Vladimir Putin, em um contexto marcado pela repressão, pela morte do opositor Alexei Navalny e pelo conflito com a Ucrânia.
Os três dias de votação foram marcados por um aumento nos bombardeios mortais ucranianos, uma série de incursões de milícias pró-ucranianas em território russo e atos de vandalismo em locais de votação.
O Kremlin apresentou as eleições como uma oportunidade para os russos expressarem seu apoio à ofensiva na Ucrânia, onde também estão sendo realizadas eleições em áreas controladas por Moscou.
A Ucrânia classificou as eleições como ilegítimas e instou seus aliados ocidentais a não reconhecerem o inevitável novo mandato de seis anos do presidente Putin.
Os partidários do opositor Navalny, principal rival de Putin, que morreu em uma prisão no Ártico em fevereiro, instaram os eleitores a protestar ao meio-dia (9h em Brasília), estragando suas cédulas nos locais de votação.
Alguns eleitores responderam ao apelo em Moscou e afirmaram à AFP que compareceram para homenagear a memória de Navalny e mostrar sua oposição da única forma legal possível.
No entanto, outros expressaram seu apoio a Putin.
— O que queremos hoje, antes de tudo, é paz — explicou Liubov Piankova, uma aposentada de 80 anos que foi votar em São Petersburgo, cidade natal de Putin.
Homenagens a Navalny
Na sepultura de Navalny, em um cemitério de Moscou, jornalistas da AFP viram cédulas eleitorais com seu nome escrito, depositadas sobre um monte de flores.
Navalny, que liderou protestos em massa e que antes de morrer convocou protestos neste domingo, tentou concorrer às eleições presidenciais de 2018, mas sua candidatura foi rejeitada.
— Vim me despedir dele. Para mim, ele é um herói — afirmou Natalia, uma aposentada de 65 anos que foi estragar sua cédula no local de votação em Moscou, onde Navalny costumava votar.
— Esta é a nossa única chance de expressar nossa opinião — disse sua amiga Elena, uma engenheira de 38 anos.
Durante os primeiros dias das eleições, houve outros atos de protesto, com uma onda de prisões de russos acusados de despejar corante nas urnas eleitorais ou de ataques incendiários.
A dissidência pública tem sido duramente reprimida na Rússia desde o início da ofensiva contra a Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, e as autoridades têm alertado contra os protestos eleitorais.
Enquanto isso, a Ucrânia continuou seus bombardeios e atacou pelo menos oito regiões durante a noite de sábado e a manhã de domingo, segundo o ministério russo da Defesa.
Três aeroportos da capital suspenderam brevemente suas operações após o bombardeio e um ataque com drones no sul provocou um incêndio em uma refinaria de petróleo.
Em Belgorod, cidade próxima à fronteira com a Ucrânia, um ataque ucraniano matou uma adolescente de 16 anos e feriu seu pai, disse o governador da região neste domingo.
E na parte controlada pela Rússia da região ucraniana de Zaporizhia, onde também estão sendo realizadas eleições, drones incendiaram um local de votação, segundo as autoridades instaladas por Moscou.
"Período difícil"
Vladimir Putin, 71 anos, ex-agente da KGB, está no poder desde o último dia de 1999 e espera estender seu mandato até pelo menos 2030.
Se completar um novo mandato, terá permanecido no poder mais do que qualquer outro líder russo desde Catarina, a Grande, no século XVIII.
Ele não tem opositores reais nas eleições, depois de excluir dois candidatos contrários ao conflito na Ucrânia.
Putin admitiu na quinta-feira (14), em uma mensagem pré-eleitoral, que a Rússia está passando por um "período difícil".
— Devemos continuar unidos e confiantes em nós mesmos — expressou, descrevendo as eleições como uma forma para os russos expressarem "seus sentimentos patrióticos".
A votação terminará em Kaliningrado, a região mais ocidental da Rússia, às 18h de Brasília, e espera-se que pouco depois os resultados das pesquisas de boca de urna sejam anunciados.
Na Praça Vermelha de Moscou, um concerto será realizado na segunda-feira (18) para comemorar o décimo aniversário da anexação russa da península da Crimeia, um evento que deverá servir como celebração da vitória de Putin.
Antes da eleição, a imprensa estatal russa elogiou os recentes avanços no front e apresentou o conflito como uma luta pela sobrevivência contra os ataques ocidentais.
Moscou tem buscado avançar no front diante das divisões no Ocidente sobre o apoio militar à Ucrânia, que enfrenta uma escassez de munições, embora Kiev afirme ter conseguido deter os avanços russos até o momento.