Vladimir Putin recebeu 87,97% dos votos nas eleições presidenciais da Rússia, de acordo com resultados preliminares anunciados pela comissão eleitoral russa. Esses primeiros resultados foram baseados na contagem das cédulas com 24,4% das seções eleitorais apuradas, afirmou a chefe da comissão eleitoral, Ella Pamfilova, na televisão estatal.
Os mandatos presidenciais na Rússia são de seis anos, ou seja, Putin deverá ficar no poder até 2030. Ele está há 24 anos no poder e é o líder mais longevo da história da federação. Josef Stálin, que ficou mais tempo na liderança da União Soviética, ficou 29 anos no poder, período que deve ser ultrapassado por Putin.
A vitória acontece em um contexto de repressão, morte do opositor Alexei Navalny e conflito com a Ucrânia. Os três dias de votação foram marcados por um aumento dos bombardeios mortais ucranianos, incursões de milícias pró-Ucrânia em território russo e atos de vandalismo em colégios eleitorais.
O Kremlin apresentou as eleições como uma oportunidade para que os russos expressem seu apoio à ofensiva na Ucrânia, que por sua vez, as classificou como ilegítimas e chamou seus aliados ocidentais a não reconhecerem o resultado.
Os apoiadores do opositor Alexei Navalny, principal rival de Putin, que morreu em uma prisão no Ártico em fevereiro, convocaram os eleitores a comparecer aos colégios eleitorais ao meio-dia. Alguns responderam ao pedido em Moscou e disseram à AFP que, assim, honravam a memória de Navalny e mostravam sua oposição da única forma legal possível.
Em outras partes do mundo, filas se formaram nas embaixadas russas, com multidões especialmente em Paris e Berlim, onde dezenas de milhares de russos vivem no exílio. A viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, votou na capital alemã. Ao seu redor, alguns carregavam faixas que diziam "Não a Putin, não à guerra" e "Putin é um assassino".
Leonid Volkov, um colaborador próximo a Navalny, agradeceu àqueles que manifestaram sua oposição. "O mundo te viu. A Rússia não é Putin, a Rússia é você", escreveu no X.
Outros eleitores, porém, demonstraram apoio a Putin.
— O que queremos hoje, acima de tudo, é a paz — explicou Liubov Piankova, um aposentado de 80 anos que foi votar em São Petersburgo, cidade natal de Putin.
Eleição sem opositores reais
Vladimir Putin está no poder desde 2000, se alternando entre os cargos de presidente e primeiro-ministro e, se completar mais seis anos à frente da Rússia, se tornará o líder mais longevo desde a revolução, ultrapassando Josef Stalin, que ocupou o Kremlin por 29 anos. Graças a uma reforma que promoveu no sistema russo, Putin ainda tem o caminho aberto para buscar mais um mandato e completar 36 anos como chefe do Kremlin.
Apenas três candidatos - de partidos amigos do governo - foram autorizados a concorrer:: Nikolai Kharitonov, 75 anos, do Partido Comunista; o nacionalista linha-dura Leonid Slutsky, 56, do Partido Liberal Democrata, que apelou à execução de prisioneiros de guerra ucranianos; e Vladislav Davankov, 40 anos, do Partido do Novo Povo, que apoiou a guerra.
Já os candidatos críticos à invasão da Ucrânia, Yekaterina Duntsova e Boris Nadezhdin, foram impedidos de concorrer depois que a Comissão Eleitoral Central afirmou ter encontrado falhas nas assinaturas de que precisavam para ganhar um lugar nas urnas. Em 2006, a comissão retirou a opção de votar contra todos os candidatos, eliminando o risco de votos de protesto. E as pesquisas já indicavam que ele teria mais de 80% dos votos.
Além da Rússia, a votação de três dias também foi realizada nos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia e na Transnístria, um território separatista pró-Rússia localizado na Moldávia.
Homenagens a Navalny
No túmulo de Navalny, em Moscoy, os jornalistas da AFP viram cédulas eleitorais com o seu nome, colocadas sobre uma pilha de flores. Navalny, que promoveu protestos maciços e que antes de morrer convocou manifestações para este domingo, tentou concorrer às eleições presidenciais de 2018, mas a sua candidatura foi rejeitada.
— Vivemos em um país onde vamos para a cadeia se dissermos o que pensamos. É por isso que quando me encontro em momentos como esse e vejo muita gente, percebo que não estamos sozinhos — disse Regina, 33 anos.
No geral, as ações da oposição foram calmas, mas a ONG especializada OVD-Info relatou pelo menos 74 detenções por diversas formas de protesto eleitoral. A dissidência pública tem sido duramente punida na Rússia desde o início da ofensiva contra a Ucrânia, que começou em 24 de fevereiro de 2022, e as autoridades alertaram contra os protestos eleitorais.
Já a Ucrânia continuou seus bombardeios, atacando pelo menos oito regiões durante a noite e na manhã deste domingo, segundo o Ministério da Defesa russo. Três aeroportos da capital suspenderam brevemente as operações depois que um bombardeio e um ataque com drones no sul provocou um incêndio em uma refinaria de petróleo.
Em Belgorod, cidade perto da fronteira com a Ucrânia, vários ataques ucranianos neste domingo mataram duas pessoas - um homem e uma menina de 16 anos - e deixaram 12 feridos, segundo o governador da região. E na região de Zaporizhzhia, na Ucrânia, controlada pela Rússia, drones incendiaram um colégio eleitoral, segundo autoridades em Moscou.
Antes das eleições, os meios de comunicação estatais russos exaltaram os recentes avanços no front e apresentaram o conflito como uma luta pela sobrevivência contra os ataques ocidentais. Um show será realizado na Praça Vermelha de Moscou na segunda-feira (18) para marcar o 10º aniversário da anexação da península da Crimeia pela Rússia, um evento que deverá servir como celebração da vitória de Putin.
Reação na Ucrânia
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, disse neste domingo que Putin está "embriagado pelo poder" ao comentar sobre os resultados da eleição na Rússia.
— Esta pessoa, como frequentemente acontece na história, está embriagada pelo poder e quer governar eternamente. Não há maldade que ele não cometa para prolongar seu poder pessoal — disse.
Também no Leste Europeu, o Ministério das Relações Exteriores da Polônia disse em nota que "a eleição presidencial russa não é legal, livre e justa". O comunicado acrescenta que a votação ocorreu em meio a "duras repressões" e criticou a realização do pleito em regiões ocupadas da Ucrânia.
Na mesma linha, o Reino Unido disse que a Rússia demonstra não ter interesse em encontrar um caminho para paz ao criticar a realização de eleições em solo ucraniano. E aproveitou para reafirmar o apoio a Kiev.