Um estado de emergência e toque de recolher imposto no Haiti, após a fuga de milhares de detentos em um ataque de gangues, paralisou, nesta segunda-feira (4), a capital, Porto Príncipe, e aumentou a preocupação dos Estados Unidos e da ONU por uma crise que só degenera.
Com escolas e bancos fechados, poucas pessoas se aventuraram a sair às ruas, exceto para comprar bens essenciais como água e combustível, constataram jornalistas da AFP.
O estado de emergência foi decretado na noite de domingo pelo governo no departamento de Ouest, que abrange Porto Príncipe, onde foi imposto toque de recolher entre as 18h e as 05h até a quarta-feira, 6 de março.
A medida foi adotada após a fuga em massa da Penitenciária Nacional, a principal prisão do país, ocorrida após o ataque de facções que deixou pelo menos doze mortos em meio a uma nova onda violência.
- 'Rápida deterioração' -
As gangues, que controlam grande parte de Porto Príncipe, também atacaram o aeroporto internacional e prédios policiais.
"Estamos acompanhando com grande preocupação a rápida deterioração da situação de segurança no Haiti", disse à imprensa o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby.
Mais cedo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, se disse "muito preocupado" com o Haiti e reiterou seu chamado a "uma ação urgente, especialmente para dar apoio financeiro à missão multinacional de segurança", apoiada pelas Nações Unidas, segundo seu porta-voz, Stéphane Dujarric.
Na mesma linha, a Organização de Estados Americanos (OEA), qualificou de "irresponsável que continuem demorando as medidas e as ações necessárias" no país mais pobre das Américas.
A República Dominicana informou, por sua vez, que reforçou a presença militar na fronteira, que já tinha aumentado nos últimos meses pela crise. O ministério da Defesa informou, ainda, que revisou a cerca erguida com o país vizinho.
- Colombianos a salvo -
A onda de violência levou o governo a decretar no domingo estado de emergência no departamento Ouest, que engloba Porto Príncipe, e toque de recolher na capital entre as 18h e as 05h locais até quarta-feira, 6 de março, informou um comunicado oficial.
Nesta segunda, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar "muito preocupado com a rápida deterioração da situação de segurança" no Haiti.
Guterres "reitera a necessidade de uma ação urgente, especialmente para dar apoio financeiro à missão multinacional de segurança" apoiada pelas Nações Unidas, afirmou seu porta-voz, Stephane Dujarric.
- Ex-soldados colombianos sob custódia -
O poderoso líder de gangue Jimmy Cherisier, apelidado de "Barbecue", disse em um vídeo publicado nas redes sociais que os grupos armados agem em conjunto "para alcançar fazer com que o primeiro-ministro Ariel Henry renuncie".
Henry que governa essa nação caribenha desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021, e nos últimos meses é alvo de muita pressão para que convoque eleições presidenciais.
No momento do decreto, assinado pelo secretário da Economia, Patrick Michel Boisvert, o premiê estava no Quênia firmando um acordo para o envio de policiais deste país africano como parte da missão apioada pela ONU para restabelecer a ordem.
Não se informou se ele voltou ao país.
Os 17 ex-militares colombianos detidos pela morte de Moïse e que estavam na prisão atacada decidiram não fugir porque foram ameaçados de morte por uma quadrilha, informou sua advogada, Sondra Macollins.
"A quadrilha dos Barbecue os estava esperando para executá-los na porta da prisão", disse ela à emissora colombiana Blu Radio.
Os ex-soldados foram tirados desta prisão no domingo, depois de um pedido do ministério das Relações Exteriores da Colômbia, que pediu a proteção da "integridade física e segurança" dos reclusos. Autoridades da Colômbia e familiares têm denunciado maus-tratos dentro da prisão.
- Corpos na prisão -
Após a morte de Jovenel Moïse, o Haiti viu-se mergulhado em uma grave crise política, humanitária e de segurança, com as forças estatais sobrecarregadas com a violência de facções que já tomaram o controle de regiões inteiras do país, incluindo a capital.
Um jornalista da AFP que visitou a prisão na manhã de domingo viu dez corpos nos arredores da penitenciária. Alguns com ferimentos por arma de fogo.
A porta estava "aberta" e "não havia quase ninguém", constatou.
"Foram contados muitos corpos de detentos", disse à AFP Pierre Espérance, diretor-executivo da Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos (RNDDH).
Apenas um número reduzido dos 3.800 presos estimados segue dentro da prisão, segundo Espérance.
O poderoso chefe de quadrilha Jimmy Cherisier, apelidado de "Barbecue", disse em um vídeo publicado nas redes sociais que os grupos armados estavam atuando em conjunto "para fazer com que o primeiro-ministro Ariel Henry renuncie".
Segundo o governo haitiano, na noite de sábado, policiais "tentaram repelir um ataque de facções criminosas à Penitenciária Nacional e à prisão de Croix de Bouquets".
O ataque "deixou vários presos e agentes penitenciários feridos". Ainda não se sabe quantos presos conseguiram escapar. Em Croix des Bouquets havia cerca de 1.450 presos.
* AFP