Durante nove séculos, os indianos rezaram em frente ao túmulo de Baba Haji Rozbih, um dos santuários islâmicos mais antigos de Nova Déli, mas, para a surpresa dos peregrinos, o templo foi destruído no início de fevereiro.
O santuário do santo sufi em um parque da capital é a última vítima do "programa de demolição" da Autoridade de Desenvolvimento de Délhi (DDA) que quer destruir "estruturas religiosas ilegais", um destino que é compartilhado por uma mesquita, vários túmulos e templos hinduístas.
A demolição provocou comoção e alerta entre os historiadores, que lamentam a perda de um patrimônio que data do final do século XII.
"É um golpe (...) a História que tornou a Índia o que ela é hoje em dia", aponta a historiadora Rana Safvi.
"Esse santuário era o de um santo sufi, que foi um dos primeiros, senão o primeiro, a chegar a Délhi", acrescentou. "Vimos pessoas de todas as confissões prestando homenagem".
- "Tudo desapareceu" -
O santuário de Baba Haji Rozbih já tinha 500 anos quando o Taj Mahal foi construído.
Era muito menos espetacular: ormado por um muro baixo que envolve uma sepultura ao fim de uma trilha no parque florestal de Sanjay Van.
Mas para os habitantes é uma perda dolorosa. "Passei noites aqui rezando e tudo desapareceu", explica à AFP um homem que falou sob a condição de anonimato. "Se não protegermos nossa história, quem fará isso?".
O programa de demolição, justificado oficialmente em nome do desenvolvimento, afetou tanto estruturas hinduístas como muçulmanas.
Mas a DDA não explicou o que será construído no lugar onde ficavam as estruturas demolidas, incluindo muitas que estavam no interior de áreas florestais ou reservadas.
A campanha foi aprovada por um comitê religioso e "o conjunto do programa de demolição é realizado sem obstáculos nem perturbações ou protestos", afirmou a DDA, uma agência federal que busca preservar "o caráter histórico único de Délhi".
Segundo o jornal Hindustan Times, além do santuário e uma mesquita, quatro templos hinduístas e 77 túmulos foram destruídos pela agência.
Essas demolições ocorrem em um momento sensível, depois de campanhas do nacionalismo hinduísta, a religião majoritária no país, que reivindicam a instalação de seus templos onde há monumentos islâmicos centenários.
Em janeiro, o primeiro-ministro Narendra Modi inaugurou um templo hinduísta gigante na cidade de Ayodhya, construído onde durante séculos havia uma mesquita.
Ela já havia sido destruída por fanáticos hinduístas em 1992. O ato desencadeou confrontos religiosos que deixaram 2.000 mortos, em sua maioria muçulmanos.
A inauguração foi interpretada como um ato de pré-campanha das eleições gerais previstas para abril, nas quais o partido nacionalista hindu de Modi, Bharatiya Janata (BJP), é o favorito.
- "O patrimônio é comum a todos" -
No mês passado, na mesma área florestal de Nova Délhi, a mesquita Ajonji que, segundo seus guardiães, tinha cerca de 600 anos foi destruída.
O imã Zakir Husain disse que as retroescavadeiras chegaram cedo, antes do amanhecer, para demolir o templo sem aviso prévio.
"Perdemos. Não podemos reconstruí-la independente dos nossos esforços", lamentou-se.
A historiadora Rana Safvi destaca que "o patrimônio é comum a todos", com isso essa demolição representa uma perda para toda a sociedade.
"Não podemos dizer que esta mesquita é um golpe duro apenas para uma comunidade em particular ou para os muçulmanos porque eles rezavam ali", argumenta.
O Serviço Arqueológico da Índia (ASI) incluía o santuário de Baba Haji Rozbih em sua lista de patrimônios de 1992 e assegurava que o santo sufi era "venerado como um dos santos mais antigos de Délhi".
Segundo a descrição, "a tradição local" falava de um segundo túmulo no santuário que pertencia à filha de um dirigente hindu de Délhi do século XII, Rai Pithura, que havia se convertido ao islã sob sua influência.
O sectarismo do santo teria gerado problemas. Segundo o documento do ASI, "diversos hindus abraçaram o islã devido aos seus conselhos e os astrólogos consideraram isso como um mau presságio", que antecipou a instalação do império mongol muçulmano, que reinou sobre grande parte da Índia a partir do século XVI.
* AFP