Milhões de paquistaneses compareceram às urnas nesta quinta-feira (8) para eleições legislativas marcadas pela violência e por suspeitas de manipulação, reforçadas pela decisão do governo de cortar os serviços de internet móvel.
A violência, que começou na véspera com explosões que mataram 28 pessoas, continuou no dia das eleições, com pelo menos sete agentes das forças de segurança mortos em dois ataques. Em nota, o Exército informou sobre 51 ataques ao longo do dia, que deixaram 12 mortos, incluindo 10 forças de segurança.
As pesquisas apontam a vitória de Nawaz Sharif, de 74 anos e que retornou do exílio em outubro, que parece contar com o apoio do Exército, um personagem político central no país. Em caso de vitória, Sharif ocupará o cargo de primeiro-ministro pela quarta vez em sua carreira, como líder da Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N).
Ao mesmo tempo, o ex-primeiro-ministro e popular ex-jogador de críquete Imran Khan, de 71 anos, condenado a três longas penas de prisão, foi impedido de disputar as eleições, o que aumentou as suspeitas de parcialidade da Justiça. O partido de Khan, Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI), sofreu com a detenção de vários integrantes e deserções forçadas. A legenda também foi proibida de fazer campanha.
Pouco depois da abertura dos locais de votação, o Ministério do Interior anunciou que os serviços de internet móvel haviam sido "suspensos temporariamente" em todo o país por motivos de segurança. Alp Toker, diretor da Netblocks, organização que monitora a internet, afirmou: "O atual bloqueio da internet está entre os mais rigorosos e extensos que já observamos em qualquer país." À noite, o Ministério do Interior informou que os serviços de telefonia móvel começaram a ser restabelecidos.
Mais de 650.000 militares, paramilitares e policiais foram mobilizados para garantir a segurança das eleições, um processo marcado por muita violência. O grupo Estado Islâmico reivindicou, na véspera, duas explosões, que deixaram 28 mortos na conflituosa província do Baluchistão, sudoeste do país.
Os centros de votação fecharam as portas às 17H00 (9H00 de Brasília) para os quase 128 milhões de eleitores registrados.
- Desconfiança -
"Meu único medo é saber se minha cédula será contada de fato para o partido em que votei", declarou à AFP Syed Tasawar, operário do setor de construção de 39 anos, ao sair de um centro de votação em Islamabad.
A campanha foi relativamente discreta, uma evidência do desencanto dos paquistaneses com a política. Quase 70% da população não acredita na transparência das eleições, segundo uma pesquisa do instituto Gallup.
O país foi governado durante décadas pelo Exército, mas em 2013 teve pela primeira vez um governo civil.
Imran Khan, que recebeu o apoio do Exército quando foi eleito em 2018, desafiou a instituição diretamente, ao acusar os militares de terem orquestrado sua destituição do cargo de primeiro-ministro em abril de 2022.
A queda em desgraça de Khan favoreceu Nawaz Sharif. Apesar do favoritismo da PML-N, o resultado pode variar muito em função da taxa de comparecimento, em particular dos mais jovens.
A maioria absoluta parece um resultado muito difícil de alcançar para a PML-N, que provavelmente terá de formar uma coalizão, talvez com o Partido Popular do Paquistão (PPP), legenda herdada por Bilawal Bhutto Zardari, filho da ex-primeira-ministra assassinada Benazir Bhutto e do ex-presidente Asif Ali Zardari.
O Paquistão, que possui a arma atômica, tem uma posição estratégica entre Afeganistão, China, Índia e Irã, enfrenta muitos desafios.
A segurança no país piorou desde que o movimento Talibã retornou ao poder no Afeganistão em agosto de 2021. A economia paquistanesa tem uma dívida gigantesca e o país registra inflação de quase 30%.
* AFP