O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, justificou na quarta-feira (21) a destituição, há um ano, da nacionalidade de 317 opositores e críticos de seu governo que foram enviados ao exílio, ao acusá-los de "traidores" e "vende-pátria".
Em um ato de recordação do assassinato há 90 anos do general Augusto César Sandino, herói nacionalista, Ortega chamou de "traidores, vende-pátria, apátridas" os opositores que "queriam acabar com este país" em 2018, durante os protestos contra seu governo, que terminaram com mais de 300 mortos.
Ortega comparou os opositores no exílio com os ex-presidentes Adolfo Díaz e Emiliano Chamorro, do início do século XX, que auxiliaram a ocupação da Nicarágua pelos Estados Unidos (1912-1933), contra a qual Sandino lutou.
"Deixaram de ser nicaraguenses (Díaz e Chamorro), como estes que deixaram de ser nicaraguenses e agora estão nos Estados Unidos, agora são 'ianques', devem estar muito felizes por serem 'ianques'. Outros estão na Espanha, eles se consideram espanhóis, muito felizes por serem espanhóis, já devem falar como espanhóis, com certeza", afirmou.
Em fevereiro de 2023, o governo Ortega libertou e expulsou para os Estados Unidos e a Espanha um grupo de 222 opositores detidos, que tiveram as nacionalidades e bens destituídos. O mesmo aconteceu com outros 94 ativistas, advogados e proprietários de meios de comunicação.
Um bispo, monsenhor Rolando Álvarez, também foi liberado e despojado de sua nacionalidade em 2023, mas preferiu a prisão ao exílio. Em janeiro, ele foi liberado, ao lado de outros 16 padres e dois seminaristas. O grupo foi enviado Roma após um acordo com o Vaticano.
A Espanha recebeu e concedeu cidadania aos renomados escritores nicaraguenses Sergio Ramírez e Gioconda Belli.
Organismos de direitos humanos da ONU, Estados Unidos, União Europeia (UE) e outros países condenaram as medidas do governo Ortega.
Estados Unidos e UE adotaram sanções contra o governo de Ortega, que, aos 78 anos, está no poder desde 2007 ao lado de sua esposa Rosario Murillo, como líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).
* AFP