Familiares de pessoas que não pertencem às gangues e foram presas sob o regime de exceção em vigor em El Salvador pediram, nesta segunda-feira (22), medidas alternativas à prisão para quem sofre de alguma doença.
"Solicitamos que réus que não são de grupos criminosos e que sofrem de uma doença crônica ou terminal sejam beneficiados com medidas alternativas à detenção", disse à AFP um dos líderes do Movimento de Vítimas do Regime (Movir), Samuel Ramírez.
De acordo com Ramírez, "o objetivo" é "garantir que sejam atendidos em sua saúde, que recebam seus medicamentos a tempo, ainda que seu processo judicial continue, mas estando fora da prisão".
Nesta segunda, quase uma centena de familiares do Movir marcharam pelas ruas de San Salvador até uma das entradas do Congresso para fazer seu pedido.
O líder do Movir afirmou que desde que o governo começou a promover uma "guerra" contra as gangues amparado em um regime de exceção vigente desde março de 2022, pouco mais de 200 pessoas morreram sob custódia do Estado em circunstâncias não esclarecidas.
Segundo associações de vítimas e organizações de direitos humanos locais, até outubro também havia 327 casos de desaparecimentos forçados. Esses números não foram confirmados pelas autoridades e a AFP também não pôde verificá-los de forma independente.
"Os que tiveram parentes que faleceram nas prisões nos disse que alguns morreram porque não receberam atenção médica adequada", declarou Ramírez.
Ao chegar no Congresso, a marcha foi impedida de acessar o local, mas os deputados saíram e receberam a petição do Movir.
O Legislativo é dominado pelo Novos Ideias, o partido que o presidente Nayib Bukele ajudou a formar e pelo qual agora ele vai buscar a reeleição em 4 de fevereiro.
El Salvador fechou 2023 com uma taxa de homicídios de 2,4 por cada 100 mil habitantes, de acordo com o governo, o que atribuiu à polêmica guerra contra as gangues que avança sob o regime de exceção.
Esse regime, questionado pelas organizações de direitos humanos porque permite prisões sem ordem judicial, levou à detenção de mais de 75 mil pessoas apontadas como membros desses grupos criminosos, dos quais mais de 7 mil tiveram que ser libertados por serem inocentes.
* AFP