Israel ordenou, nesta quarta-feira (20), a evacuação de grande parte da principal cidade no sul da Faixa de Gaza, Khan Yunis, informou a Organização das Nações Unidas (ONU). Enquanto isso, prosseguem nesta quinta-feira os esforços para chegar a uma trégua no território palestino, onde o número de mortos subiu para 20 mil, segundo o Hamas.
O Exército israelense apelou à "evacuação imediata" de uma área que "cobre cerca de 20%" da cidade de Khan Yunis, informou o Escritório de Coordenação Humanitária da ONU (Ocha, na sigla em inglês).
A Faixa de Gaza está sem eletricidade devido a um bloqueio imposto por Israel. Muitos habitantes têm apenas rádios a pilha e as informações que circulam entre a população.
Antes do início dos combates, a área tinha mais de 111 mil habitantes, segundo o escritório. A área também inclui 32 abrigos com mais de 141 mil deslocados internos — a maioria pessoas que tiveram de deixar o norte do território palestino, acrescentou a entidade.
O Exército de Israel anunciou, na segunda-feira, que intensificou suas operações em Khan Yunis.
A guerra entre Israel e o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, eclodiu após o ataque do grupo terrorista em 7 de outubro no sul de Israel, deixando cerca de 1.140 mortos, segundo um levantamento da agência de notícias AFP baseado nos últimos números israelenses. Cerca de 250 pessoas foram feitas reféns e 129 permanecem em Gaza, segundo Israel.
A posterior campanha militar israelense na Faixa de Gaza deixou pelo menos 20 mil mortos na região, incluindo pelo menos 8 mil crianças e 6,2 mil mulheres, segundo o governo do Hamas. O chefe de assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths, classificou o número como "trágico e vergonhoso".
Diálogo pela trégua
A possibilidade de Israel e o Hamas se aproximarem de uma trégua e de um acordo para a libertação de reféns aumentou nesta semana, quando um líder do movimento islâmico visitou o Egito e foram realizadas negociações na Europa.
Ismail Haniyeh, líder do Hamas no Catar, chegou ao Egito na quarta-feira para se encontrar com o chefe da inteligência local, Abas Kamel. Uma fonte do Hamas disse à agência de notícias AFP que "o cessar-fogo total e a retirada do exército de ocupação israelense são uma condição para qualquer negociação séria" sobre uma troca de reféns por prisioneiros.
Mas o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, indicou que não haveria cessar-fogo antes da "eliminação" do Hamas. Por sua vez, o presidente norte-americano, Joe Biden, admitiu que "não há expectativas neste momento, mas estamos pressionando" para chegar a um acordo.
David Barnea, chefe da agência de inteligência israelense, Mossad, teve uma "reunião positiva" esta semana em Varsóvia com o chefe da Agência de Inteligência Central (CIA, na sigla em inglês), Bill Burns, e o primeiro-ministro do Catar, Mohamed bin Abdulrahman Al Thani.
O Catar, com o apoio do Egito e dos Estados Unidos, ajudou a mediar uma trégua de uma semana no final de novembro que permitiu a libertação de 80 reféns israelenses em troca de 240 prisioneiros palestinos.
Rede de túneis
Israel disse que as suas forças encontraram uma rede de túneis utilizada por dirigentes do Hamas, incluindo o líder do movimento em Gaza, Yahya Sinwar.
O Exército divulgou imagens dos túneis na Cidade de Gaza, ligando esconderijos e residências. Também relatou combates corpo a corpo e mais de 300 bombardeios no último dia. Por fim, lamentou a morte de três soldados na quarta-feira, elevando para 137 o número de baixas desde o início das operações terrestres.
O Ministério da Saúde do Hamas disse que os ataques israelenses a casas e mesquitas mataram pelo menos 12 pessoas e que outras 30 morreram em bombardeios a leste de Khan Yunis.
Estagnação na ONU
O Conselho de Segurança da ONU tentaria novamente, na quinta-feira, aprovar uma resolução pedindo a suspensão dos combates, após não obter o apoio de Washington.
Os Emirados Árabes Unidos defendem um projeto de resolução que foi diluído para garantir apoio, segundo versão consultada pela agência de notícias AFP. A proposta apela à "suspensão urgente das hostilidades para permitir o acesso humanitário seguro e sem travas para uma cessação sustentável das hostilidades".
Israel permitiu a passagem de caminhões pelo posto fronteiriço de Rafah com o Egito, e esta semana também por Kerem Shalom.
A guerra suscitou receios de uma escalada regional, com incidentes na fronteira com o Líbano e mísseis dos rebeldes houthis do Iêmen, apoiados pelo Irã, tendo como alvo navios de carga no Mar Vermelho.
Israel anunciou, na quarta-feira, que atacou um "centro de comando operacional" usado pelo grupo Hezbollah, apoiado pelo Irã, e disparou contra combatentes que se dirigiam para a sua fronteira com o Líbano.