O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CSNU) rejeitou, nesta quarta-feira (18), o texto proposto pelo Brasil sobre a guerra entre Israel e Hamas. Os Estados Unidos, integrante titular do conselho, vetaram, de forma isolada, a proposta. Para ser aprovada, a resolução não pode ser vetada por nenhum membro titular do conselho, por isso, mesmo que a proposta brasileira tenha obtido 12 votos a favor, o texto foi rejeitado.
O texto condena os ataques do Hamas, pede a abertura de corredores humanitários em Gaza e pausas na guerra para atendimento aos civis e a retomada de serviços essenciais.
Segundo a diplomacia dos EUA, o veto se deve à ausência de menção ao direito de autodefesa de Israel, apoiado por Washington.
— Os EUA estão desapontados que a resolução não cita o direito de autodefesa de Israel. Não podemos apoiar o avanço dessa resolução, mas continuaremos a trabalhar com os membros do conselho — disse a embaixadora Linda Thomas Greenfield.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, lamentou a rejeição. Ele destacou que o Brasil fez um esforço gigantesco para para criar um texto mais palatável a todos.
— Após intensas e múltiplas consultas, apresentamos um texto que foi aceito por 12 dos 15 membros. O texto focava basicamente na cessação das hostilidades, criação de uma passagem humanitária e estabelecia possibilidade de envio de ajuda humanitária. Infelizmente não foi possível se aprovar, ficou claro uma divisão de opiniões, mas acho que do ponto de vista da nossa presidência e do governo brasileiro fizemos todo o esforço possível para que cessassem as agressões e pudesse ser dado algum tipo de assistência às populações locais e brasileiros na Faixa de Gaza. Nossa preocupação foi sempre humanitária e cada país teve sua inspiração própria — declarou.
A Rússia criticou a proposta brasileira, e propôs duas emendas. Uma para incluir uma condenação a ataques a civis na Faixa de Gaza, citando o ataque ao hospital, e a segunda, para falar em cessar-fogo humanitário, em vez de uma pausa humanitária. A primeira parte teve 6 votos a favor, 1 contra e 8 abstenções, sendo derrotada. A segunda parte também fracassou, após novo veto dos EUA - o placar total foi de 7 a favor, 1 contra e 7 abstenções.
A sessão foi aberta pelo embaixador do Brasil na ONU. Em seguida, o representante da Rússia sugeriu duas mudanças ao texto, e a resolução foi para votação.
A resolução foi costurada pela diplomacia do Brasil, mas contou com apoio de outros países membros do CSNU. Ao todo foram feitos quatro rascunhos da proposta da presidência brasileira, segundo fontes.
Na sequência do encontro, o Conselho de Segurança da ONU, presidido pelo Brasil neste mês, fará uma reunião de emergência após o ataque ao hospital na cidade de Gaza nesta terça e que deixou mais de 500 mortos, solicitada pelos Emirados Árabes Unidos, Rússia e China. O ocorrido, inclusive, aumentou a urgência do tema e pressão para que o órgão máximo de decisão da ONU se posicione a respeito. Desde 2016, o CSNU não emite uma opinião oficial sobre o Oriente Médio.
A votação
Doze países, entre eles a China, votaram a favor do texto brasileiro. Foram eles:
- Brasil
- China
- França
- Albânia
- Equador
- Gabão
- Gana
- Japão
- Malta
- Moçambique
- Suíça
- Emirados Árabes Unidos
São necessários ao menos nove votos, considerando o total de 15 países que formam o CSNU, para aprovação. Além disso, nenhum dos cinco membros permanentes pode vetá-lo. São eles: Estados Unidos, Reino Unido, China, França e Rússia.
Adiamentos
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CSNU) adiou a votação do projeto de resolução do Brasil por duas vezes.
Outra proposta rejeitada
Em plena atividade diplomática envolvendo a guerra entre Israel e o Hamas, o Conselho de Segurança rejeitou, na segunda-feira (16), uma resolução proposta pela Rússia.
Na ocasião, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, explicou que a proposta foi rejeitada porque não condenou o Hamas.
— Esse Conselho e toda a comunidade internacional tem responsabilidade de ajudar a lidar com essa crise humanitária, condenando o Hamas de forma inequívoca e reafirmando o direito de autodefesa, de acordo com a Carta Magna da ONU. Infelizmente, a resolução da Rússia não atende todas essas responsabilidades — disse.
Segundo ela, ao não mencionar o Hamas em qualquer momento, a Rússia dá cobertura ao grupo terrorista, “ignora o terrorismo do Hamas e desonra suas vítimas”.
O representante da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, lamentou a rejeição da proposta.
— É uma pena que o Conselho mais uma vez esteja refém das intenções do bloco Ocidental. Esse é o único motivo para não ter sido enviado um recado coletivo com relação a redução de danos — disse.
A escalada de violência na região, que chegou ao 12º dia, já soma mais de 4 mil mortos, a maioria civil.