Ofertas de ajuda humanitária de vários países já começam a chegar para o governo do Marrocos, enquanto o país ainda trabalha neste domingo, 10, para resgatar sobreviventes do terremoto mais forte do país em mais de um século. Mais de 2 mil pessoas morreram - um número que deve aumentar. Até o momento, apenas a Espanha recebeu um sinal positivo para enviar equipes de resgate, mas países como Israel, Estados Unidos, França e Alemanha já se mobilizaram para agir.
Um outro terremoto de magnitude 3,9, menor que o registrado na sexta-feira, 8, também atingiu a região de Marrakesh-Safi neste domingo, segundo o site do Serviço Geológico dos Estados Unidos. O tremor, que pode ser uma atividade secundária, atingiu pouco mais de 9,6 quilômetros de profundidade pouco antes das 9 horas da manhã na parte sul da região, próximo ao epicentro do terremoto anterior.
Até o momento, cerca de 2.012 pessoas foram confirmadas como mortas e pelo menos mais 2.059 pessoas ficaram feridas - 1.404 em estado crítico - informou o Ministério do Interior do Marrocos na noite de sábado, 9.
De acordo com o ministro das relações exteriores da Espanha, José Manuel Albares, o país recebeu uma ligação do Marrocos aceitando ajuda de equipes de busca e resgate neste domingo.
— É um sinal da solidariedade espanhola e do sentimento de amizade que une o povo da Espanha ao povo do Marrocos —disse ele Albares em uma entrevista à Catalunya Radio, reportou o canal de notícias Al Jazeera.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, fez uma ligação telefônica com seu colega marroquino para expressar o desejo do país de ajudar "tanto quanto for necessário". Gallant ordenou que os militares israelenses se preparassem para fornecer ajuda humanitária ao Marrocos.
Israel e Marrocos normalizaram suas relações em 2020 e, recentemente, começaram a aprofundar seus laços diplomáticos e de segurança. O presidente do Senado marroquino, Enaam Mayara, deveria ser a primeira autoridade marroquina e um dos poucos líderes muçulmanos a pisar no Knesset, o parlamento de Israel, no início da semana, mas cancelou a visita no último minuto devido a uma emergência médica.
"Uma parte significativa dos Acordos de Abraão é o nosso compromisso de apoiar nossos parceiros em tempos difíceis" disse Gallant em um comunicado no sábado, referindo-se aos acordos intermediados pelos EUA que formalizaram os laços entre Israel e algumas nações árabes.
O presidente Joe Biden estava entre os líderes mundiais que expressaram tristeza com a devastação enfrentada pelo reino do Marrocos depois do forte terremoto. Biden disse no sábado que as autoridades dos EUA entraram em contato com o Marrocos para oferecer ajuda.
— Estamos trabalhando rapidamente para garantir que os cidadãos americanos no Marrocos estejam seguros e estamos prontos para fornecer qualquer assistência necessária ao povo marroquino. Os Estados Unidos estão ao lado do Marrocos e do meu amigo, o rei Mohammed VI, neste momento difícil —
A Turquia, que perdeu dezenas de milhares de pessoas em um grande terremoto no início deste ano, estava entre os que propuseram ajuda. A França e a Alemanha, com grandes populações de pessoas de origem marroquina, também se ofereceram para ajudar.
No Oriente Médio, o Catar também se propôs a "fornecer toda a assistência necessária às áreas afetadas para apoiar sua recuperação dos efeitos do terremoto", de acordo com uma declaração da Qatar News Agency. A Emirates News Agency informou que as equipes de resgate da polícia de Dubai estavam enviando ajuda. O rei Abdullah II da Jordânia também ofereceu ajuda.
Em uma medida excepcional, a Argélia ofereceu a abertura de seu espaço aéreo para permitir que eventuais voos de ajuda humanitária ou de evacuação médica viajem de e para o Marrocos. A Argélia fechou o espaço aéreo quando seu governo rompeu relações diplomáticas com o Marrocos em 2021 devido a uma série de questões. Os países têm uma disputa de décadas envolvendo o território do Saara Ocidental.
O gabinete do presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, disse em uma declaração no sábado que a Argélia está pronta para oferecer ajuda humanitária "em solidariedade ao povo marroquino irmão, caso as autoridades do reino marroquino expressem seu desejo".
A declaração também ofereceu a reabertura do espaço aéreo, além de condolências pelos mortos e "profunda compaixão" pelos feridos.
Pós tremor
Os desabrigados pela destruição causada pelo terremoto de sexta-feira, 8, dormiram ao relento no sábado, nas ruas da antiga cidade de Marrakech ou sob coberturas improvisadas nas cidades das montanhas do Atlas, como Moulay Brahim, uma das mais atingidas. A pior destruição ocorreu em pequenas comunidades rurais de difícil acesso para as equipes de resgate devido ao terreno montanhoso.
O terremoto de magnitude 6,8 fez com que as pessoas saíssem correndo de suas camas para as ruas e derrubou prédios em vilarejos e cidades montanhosas que não foram construídos para resistir a um terremoto tão forte.
— Sentimos um tremor enorme, como se fosse o dia do juízo final — disse Ayoub Toudite, morador de Moulay Brahim. "Dez segundos e tudo se foi."
Os mortos estão, em sua maioria, em Marrakech e nas cinco províncias próximas ao epicentro do terremoto, informou o Ministério do Interior do Marrocos na manhã de sábado.
Comitiva gaúcha
Uma comitiva brasileira, com integrantes do Rio Grande do Sul, estava em Marrakesh, no Marrocos para participar do 10º Encontro Mundial de Geoparques Unesco. A missão é liderada pelo vice-governador Gabriel Souza.
A equipe do governo do Estado já tinha voo marcado e retorno ao Rio Grande do Sul previsto para este fim de semana. Os demais brasileiros da comitiva aguardam orientação das autoridades locais.