Um ano depois de um duplo assassinato homofóbico que chocou a Eslováquia, a comunidade LGBTQIA+ está preocupada com o aumento do discurso de ódio durante a campanha para as eleições de sábado, em um país que concede poucos direitos aos casais homoafetivos.
O ex-primeiro-ministro Robert Fico, cujo partido de esquerda Smer-SD é o favorito, segundo as pesquisas, é conhecido por seus ataques frequentes à comunidade LGBTQIA+.
Fico descreveu como uma "perversão" a adoção de casais do mesmo sexo, que não é legalizada na Eslováquia.
O último vídeo de campanha do seu partido mostra um personagem semelhante ao líder liberal do Eslováquia Progressista, Michal Simecka, carregando uma bandeira de arco-íris e refletindo antes de entrar em um banheiro público durante o recreio escolar.
"Em um momento em que 'Micho' se pergunta se é menino, menina ou helicóptero, para nós a ideologia de gênero é inaceitável e o casamento só pode ser a união entre um homem e uma mulher", declara Fico, sorrindo.
"Nunca apoiarei que eles (a comunidade LGBTQIA+) possam se casar, como acontece em outros países", declarou recentemente à imprensa.
Na Eslováquia, as uniões de casais homossexuais não são regulamentadas por lei e as pessoas LGBTQIA+ não podem obter informações de saúde sobre os seus parceiros ou herdar os seus bens. Os casamentos celebrados no exterior também não são reconhecidos.
- "Propagação do ódio" -
Martin Macko, diretor executivo do coletivo Inakost ("Alteridade"), que reúne diversas organizações LGBTIQA+, diz estar preocupado com a retórica do Smer-SD.
"O Smer-SD não só aproveita a propagação do ódio contra as pessoas LGBTQIA+ em sua campanha eleitoral, mas também promete proibir por lei que as pessoas LGBTQIA+ falem nas escolas", disse Macko à AFP.
Macko teme que um governo do Smer-SD tente aprovar leis semelhantes às promovidas por Viktor Orban na Hungria ou pelo governador da Fórida, Ron DeSantis, nos Estados Unidos.
Apenas dois dos 25 partidos em disputa prometem melhorar os direitos da comunidade LGBTQIA+. Outros partidos importantes mantêm discursos semelhantes aos do Smer-SD.
Mesmo que existam partidos liberais ou progressistas que entrem no governo por meio de uma coalizão, há poucas probabilidades de que as suas promessas eleitorais se concretizem.
Mais de 77% dos LGBTQIA+ afirmaram, em uma pesquisa de 2022, que o principal problema que a comunidade enfrenta é a falta de reconhecimento jurídico dos casais do mesmo sexo.
No entanto, de acordo com a última pesquisa do think tank internacional GLOBSEC, 63% dos eslovacos não querem que os LGBTQIA+ tenham os mesmos direitos.
A Eslováquia, um país predominantemente católico, ficou comovida por um assassinato duplo ocorrido na capital Bratislava, em outubro de 2022, em frente a um bar LGBTQIA+. O agressor, um jovem de 19 anos, filho de um conhecido político de extrema direita, matou dois homens a tiros e depois cometeu suicídio.
O agressor admitiu na rede Twitter (agora chamada de X) que agiu motivado por seu ódio contra pessoas LGBTQIA+.
Depois do crime houve apelos para reformas, mas sem que isso se concretizasse.
* AFP