A Armênia afirmou nesta quarta-feira (27) que quase metade da população de Nagorno-Karabakh abandonou a região desde a ofensiva relâmpago do Azerbaijão na semana passada, que acabou com os sonhos de independência dos separatistas armênios.
Mais de 50 mil pessoas procedentes do enclave procuraram refúgio na Armênia, segundo os números atualizados divulgados nesta quarta-feira pelas autoridades de Ierevan, depois da operação militar do Azerbaijão na região que deixou mais de 400 mortos entre os dois lados.
Até a semana passada, 120 mil armênios viviam no enclave, reconhecido pela comunidade internacional como parte integrante do Azerbaijão.
Ao mesmo tempo, quase 100 pessoas foram declaradas desaparecidas após a explosão de um depósito de combustíveis na noite de segunda-feira no enclave, uma tragédia que deixou 68 mortos e 290 feridos.
No domingo, o Azerbaijão abriu para circulação a única estrada que liga Nagorno-Karabakh à Armênia, quatro dias após a rendição dos separatistas e da assinatura de um acordo de cessar-fogo que deu a Baku o controle da região.
A Armênia, majoritariamente cristã, e o Azerbaijão, predominantemente muçulmano, travaram duas guerras na região de Nagorno-Karabakh desde o colapso da União Soviética em 1991.
Em meio ao êxodo, os guardas de fronteira do Azerbaijão tentam detectar supostos "criminosos de guerra" entre os refugiados, afirmou à AFP uma fonte do governo de Baku.
Nesta quarta-feira, um ex-líder separatista armênio, Ruben Varadanyan, que comandou o governo separatista de Nagorno-Karabakh de novembro de 2022 a fevereiro deste ano, foi detido quando seguia para a Armênia pela rodovia, anunciaram as autoridades do Azerbaijão.
- Crise humanitária -
A cidade fronteiriça de Goris, onde a maioria dos refugiados faz a sua primeira parada, está quase irreconhecível. Centenas de carros invadiram suas ruas, onde reina o caos, diante dos olhares atônitos dos policiais, incapazes de direcionar o trânsito com seus megafones.
Muitos refugiados, famintos, passaram a noite em seus veículos. A maioria explicou que não tinha onde dormir ou para onde seguir na Armênia.
Alekhan Hambardzyumyan, de 72 anos, dormiu em sua van. Ele disse que escapou por pouco de um bombardeio quando foi procurar seu irmão, ferido na frente de batalha em 20 de setembro. Seu filho morreu nos últimos combates, que deixaram 213 mortos entre os separatistas armênios.
O Azerbaijão, por sua vez, informou que 192 soldados e um civil morreram na operação militar.
"Quero ir para Ierevan, mas não sei o que o Estado pode me oferecer", comentou o homem.
O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, declarou-se disposto a acolher 40 mil refugiados no país de 2,9 milhões de habitantes. Mas até o momento o governo conseguiu alojar apenas 2.850 pessoas, o que provoca o temor de uma crise humanitária.
- Descontentamento -
"A Armênia não tem recursos para administrar a crise dos refugiados e não o conseguirá sem ajuda externa", considerou o analista político Boris Navasardyan em entrevista à AFP.
Segundo ele, a situação "terá graves repercussões no cenário político, em meio ao descontentamento generalizado".
Nos últimos dias foram registradas manifestações em Ierevan contra o primeiro-ministro, a quem parte da população acusa de adotar uma atitude passiva em relação ao Azerbaijão.
Nikol Pashinyan também precisa lidar com a Rússia, que tem uma importante base militar na Armênia, embora a influência de Moscou no Cáucaso tenha diminuído desde a invasão da Ucrânia.
O líder armênio culpou implicitamente a Rússia por não ter apoiado seu país de maneira suficiente, ao chamar as atuais alianças de Ierevan, especialmente com a Rússia, de "ineficazes", o que o Kremlin rebateu.
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, prometeu que os direitos dos armênios que decidirem permanecer no enclave, anexado ao país em 1921 pela União Soviética, serão "garantidos".
Na terça-feira, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, fez um apelo e pediu a proteção dos civis e, nesta quarta-feira, sua homóloga alemã, Annalena Baerbok, pediu a Baku que autorize a entrada de observadores internacionais no enclave.
* AFP