Mais de 28.000 pessoas procedentes de Nagorno-Karabakh fugiram para a Armênia, anunciaram nesta terça-feira (26) as autoridades de Yerevan, uma semana após a ofensiva relâmpago vitoriosa do Azerbaijão neste território separatista do Cáucaso.
Na única rota terrestre de saída desta região em direção à Armênia, o corredor de Lachin, centenas de veículos aguardam para cruzar a fronteira, depois que o governo de Yerevan denunciou planos de "limpeza étnica".
As autoridades armênias indicaram no decorrer desta terça-feira um aumento no número de refugiados que entravam em seu território, passando de 13.000 pela manhã para 28.000 durante a noite.
Por sua vez, o Azerbaijão busca no fluxo de refugiados possíveis autores de "crimes de guerra", indicou nesta terça-feira uma fonte ligada ao governo desse país à AFP.
"O Azerbaijão tem a intenção de anistiar os combatentes armênios que depuseram as armas em Karabakh. Mas aqueles que cometeram crimes de guerra durante as guerras em Karabakh devem se entregar", disse essa fonte.
Em meio ao êxodo da população armênia desse território reconhecido internacionalmente como parte do Azerbaijão, a explosão de um depósito de combustível na segunda-feira deixou ao menos 68 mortos e 290 feridos e 105 desaparecidos, segundo o último balanço das autoridades separatistas armênias, divulgado nesta terça-feira.
"Dezenas de pacientes seguem em estado crítico", indicaram em um comunicado, pedindo ajuda externa para gerenciar esta crise.
Os civis iniciaram uma campanha de fuga, apesar das promessas do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, de que "garantirá" os direitos armênios que optarem por permanecer no enclave, após se reunir com seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, um líder crucial nesta região do Cáucaso.
Nesta terça, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, instou Aliyev a respeitar seus compromissos de proteger os civis, permitindo o acesso da ajuda humanitária a esta região povoada majoritariamente por armênios, mas que foi integrada ao Azerbaijão durante a era soviética.
Armênia e Azerbaijão, duas ex-repúblicas soviéticas, travaram duas guerras nas últimas três décadas pelo controle de Nagorno-Karabakh: a primeira entre 1988 e 1994 e a segunda em 2020. A operação da semana passada terminou com 200 mortos, segundo os separatistas armênios.
A União Europeia (UE) recebeu nesta terça, em Bruxelas, representantes da Armênia e do Azerbaijão, assim como da França e da Alemanha.
Segundo o comunicado da UE, as discussões permitiram "intensas trocas entre os participantes sobre a importância de uma reunião do primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, com o presidente do Azerbaijão em 5 de outubro em Granada, sul da Espanha. Este encontro já estava agendado e não foi cancelado.
- Êxodo -
Uma equipe da AFP teve acesso à rota entre Nagorno-Karabakh e a Armênia em uma visita organizada pelo governo azerbaijano, e viu que a maioria das pessoas que abandonaram esse enclave eram mulheres, crianças e idosos.
"Vou para Yerevan, tenho filhos lá. Mas quero voltar para cá junto com eles", afirmou Hrant Haroutounian, um homem de 83 anos, após cruzar a fronteira.
O Azerbaijão prometeu que permitiria a fuga para Armênia dos rebeldes que entregassem as armas.
O território tinha 120.000 habitantes antes da ofensiva relâmpago executada por Baku em 19 de setembro, que aconteceu após meses de bloqueio ao abastecimento de produtos no enclave.
O teatro de Goris, na Armênia, registra um fluxo constante de veículos que chegam lotados. Alguns civis partem do local para Yerevan ou para outras grandes cidades armênias.
Esta localidade próxima da fronteira começou a receber refugiados no domingo. Na semana passada, o primeiro-ministro armênio anunciou que o país, de 2,9 milhões de habitantes, se preparava para receber 40.000 refugiados.
A Rússia, que tinha uma grande presença na região e no último conflito mobilizou uma força de paz que deixou um contingente em Nagorno-Karabakh, rejeitou na segunda-feira as críticas da Armênia de que teria abandonado os moradores do enclave.
* AFP