Ferrenho na luta contra a corrupção, o candidato presidencial Fernando Villavicencio, 59 anos, apresentou denúncias de irregularidades em estatais equatorianas até dias antes de ser assassinado a tiros na capital do Equador, após participar de um comício político. Villavicencio aparecia na quinta colocação nas pesquisas de intenção de voto.
Uma de suas investigações jornalísticas levou o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) ao banco dos réus. O relatório feito em conjunto com seu colega e amigo Christian Zurita expôs um esquema de propinas que encurralou o ex-chefe de Estado e funcionários de seu governo por terem recebido subornos de empresários.
Por esse caso, Correa, que está refugiado na Bélgica e a quem Villavicencio se referia como "o fugitivo", foi condenado à revelia a oito anos de prisão.
Suas investigações lhe renderam ordens de prisão. Em 2014, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) concedeu medidas cautelares após ele ser condenado a 18 meses de prisão por difamar Correa. Naquela ocasião, ele se escondeu na selva amazônica para evitar cumprir a sentença.
Dois anos depois, um juiz ordenou sua prisão por supostamente revelar informações confidenciais com e-mails hackeados do governo de Correa para sustentar investigações sobre corrupção em negócios petrolíferos.
Então, ele se refugiou em Lima, no Peru, até 2017, quando retornou ao país durante o governo de Lenín Moreno (2017-2021), distanciado de Correa.
Na semana passada, Villavicencio denunciou ameaças contra sua vida e sua equipe de campanha. O candidato estava sob proteção policial quando foi atacado a tiros ao sair de um comício político com apoiadores.
"Apesar das novas ameaças, continuaremos lutando pelo povo corajoso do nosso Equador", escreveu Villavicencio nas redes sociais, ao denunciar mensagens intimidadoras.
Apoiado pelos movimentos Construye e Gente Buena, o jornalista e ex-membro da Assembleia Nacional buscava a presidência do Equador pela primeira vez.
As eleições antecipadas acontecem depois que o presidente Guillermo Lasso dissolveu a Assembleia Nacional.
"Contra a indústria do petróleo"
Entre as propostas de Villavicencio estava a construção de uma prisão de segurança máxima na Amazônia.
— Meu governo será um governo de mão firme contra a violência, mas vamos focar principalmente no desemprego — havia declarado recentemente à imprensa.
Nascido na localidade andina de Alausí, na província de Chimborazo, Villavicencio foi o mais velho de seis irmãos e cresceu no campo até que sua família migrou para Quito.
Desde muito jovem, trabalhou como "descascador de peixes, mariscos" e também como "garçom, atendente de mesa", conforme relatou em uma entrevista recente ao jornal El Universo.
Ele se envolveu com a indústria do petróleo — da qual tinha amplo conhecimento — quando ocupou um cargo na área de relações comunitárias da estatal Petroecuador.
— Meu trabalho era contra a indústria do petróleo, porque o que eu fazia era investigar e registrar os impactos da indústria do petróleo. Sempre acabava emitindo relatórios contra a própria empresa — apontou.
Ao deixar o setor petrolífero, passou a atuar como jornalista nos portais Plan V, Mil Hojas e Periodismo de Investigación.
Villavicencio, a quem seus simpatizantes chamavam de Don Villa, chegou a ocupar um assento na Assembleia Nacional, onde presidiu a Comissão de Fiscalização, que convocou o presidente Lasso para um processo de impeachment por um suposto caso de corrupção, algo com o qual o candidato não concordava.
A última denúncia apresentada por ele envolve o ex-vice-presidente Jorge Glas, ex-ministro do governo de Correa, e a Petroecuador, por supostos contratos ilegais na concessão de 21 poços de petróleo a empresas estrangeiras.