A denúncia do Ministério Público da Colômbia sobre um suposto plano da guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN) para assassinar o procurador-geral da Colômbia, Francisco Barbosa, abalaram as negociações de paz entre o governo do país e os rebeldes nesta quarta-feira (9), que deram início recentemente a um cessar-fogo bilateral.
Na terça, o Ministério Público informou, em nota, que tinha informações sobre guerrilheiros que estariam sendo treinados na Venezuela para atacar Barbosa com atiradores de elite.
O ELN negou nesta quarta que tivesse elaborado um plano para assassinar Barbosa e garantiu que se trata de uma tentativa de desestabilizar as negociações de paz, iniciadas em novembro.
"É falsa a notícia entregue pelo procurador Barbosa. Com ela, tenta sabotar o processo de diálogo entre o Governo e o ELN", disse a delegação negociadora da guerrilha na rede social Twitter, agora chamada de X.
O grupo guerrilheiro escreveu a palavra "FALSO" em letras vermelhas, em cima do texto do Ministério Público.
Segundo a denúncia do MP, cinco lideranças rebeldes se reuniram em julho na Venezuela para iniciar a operação que teria como alvo o procurador-geral, um dos maiores críticos da política de negociações com organizações armadas do presidente de esquerda Gustavo Petro.
A Chancelaria da Venezuela expressou, por meio de nota, "profunda preocupação com as informações escandalosas (...) que tentam minar o processo de paz" e assegurou que as autoridades farão uma "investigação exaustiva e transparente" sobre o suposto uso do território venezuelano com fins "terroristas".
De acordo com a imprensa local, uma das lideranças envolvidas é Eduardo Galvis, que em 1999 participou do sequestro de um avião em pleno voo.
Em Belém do Pará, onde acompanha Petro em uma cúpula sobre a Amazônia, o chanceler colombiano, Álvaro Leyva, pediu para "esclarecer a verdade" e sugeriu que poderia ser uma conspiração contra as negociações.
"Temos que averiguar muito a fundo porque pode perfeitamente ser uma bomba contra o processo de paz", disse o ministro a jornalistas.
A oposição, que desaprova um possível desarmamento do ELN para fazer política, pediu o fim das negociações que ocorreram em Caracas, Havana e Cidade do México.
As partes planejam se reunir novamente na capital venezuelana a partir de 14 de agosto, mas ainda não está claro se a agenda está mantida.
- Violação -
Cercado por guarda-costas, Barbosa se reuniu pela manhã com a cúpula das Forças Armadas e com o ministro da Defesa, Iván Velásquez.
"Pensamos que, com toda a cautela, mas com absoluta responsabilidade, temos de avaliar toda esta informação e realizar os trabalhos correspondentes", disse o titular da pasta no final do encontro.
O MP informou nesta terça-feira que a inteligência das Forças Armadas e de seus escritórios especializados emitiu um alerta sobre um possível atentado do ELN.
Barbosa, por sua vez, se limitou a agradecer o apoio do governo e dos militares por "poder esclarecer cada uma das informações que deram origem a uma investigação judicial".
O principal negociador do governo, Otty Patiño, garantiu à rádio W que esta é uma denúncia sensível que requer investigações. E que se fosse confirmada, o ELN "estaria violando os princípios mais básicos do direito humanitário internacional", acrescentou.
Os insurgentes pediram "uma reunião extraordinária" do Mecanismo de Monitoramento e Verificação do processo de paz, formado, entre outros pela ONU e a Igreja Católica.
- Suspensão dos diálogos -
Alarmados com a denúncia de Barbosa, integrantes do partido de oposição Centro Democrático pediram o fim das negociações de paz.
"Como fazer as pazes com um grupo que ameaça assassinar o Procurador da República!", exclamou o ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).
A deputada Paloma Valencia, por sua vez, recomendou a "suspensão nas negociações com o ELN", que segundo números oficiais, tinha pelo menos 5.800 guerrilheiros em 2022.
Os negociadores da guerrilha, a mais antiga das Américas, com quase 60 anos, e do governo se reuniram na semana passada em Bogotá. O encontro coincidiu com a assinatura de um cessar-fogo bilateral por seis meses.
Na segunda-feira (7), o comandante das Forças Armadas, general Helder Giraldo, afirmou que está investigando seis possíveis violações da trégua por parte do ELN.
* AFP