Os países da África Ocidental afirmaram, na sexta-feira (18), que estavam "prontos" para intervir militarmente no Níger e definiram uma data para agir, embora exista a possibilidade de enviarem uma missão a esse país para tentar restabelecer pacificamente a ordem constitucional.
"Estamos prontos para intervir assim que recebermos a ordem. Também foi estabelecido o dia da intervenção", declarou o comissário de Assuntos Políticos, Paz e Segurança da Cedeao, Abdel-Fatau Musah, após uma reunião em Acra, a capital de Gana.
Os chefes militares da Cedeao se reuniram desde quinta-feira na capital ganense, três semanas após o golpe de estado que depôs o presidente Mohamed Bazoum em 26 de julho no Níger.
A reunião permitiu concordar sobre os "objetivos estratégicos, o equipamento necessário e o compromisso dos Estados membros" para a possível intervenção, detalhou Musah.
No entanto, ao mesmo tempo, o bloco regional indicou que havia uma "possibilidade" de que uma missão da Cedeao viajasse no sábado para Niamei, a capital nigerina, "para continuar buscando uma via pacífica".
"Estamos dispostos a resolver o problema de maneira pacífica, mas para dançar o tango são necessários dois", insistiu Musah.
As missões anteriores da Cedeao não foram recebidas pelo novo homem forte do país, o general Abdourahamane Tiani.
O novo regime considera que qualquer intervenção militar contra o país constituiria uma "agressão ilegal e insensata" e prometeu uma "resposta imediata" a qualquer ofensiva.
O Níger era um aliado crucial dos países ocidentais na luta contra os grupos jihadistas que operam no Sahel, uma longa faixa semiárida que faz fronteira com o deserto do Saara ao sul.
- "Consequências graves" -
Em uma cúpula realizada em 10 de agosto, a organização havia decidido ativar uma "força de reserva para restaurar a ordem constitucional" no país.
Nos últimos dias, os apelos por uma solução pacífica se multiplicaram, alguns de parceiros ocidentais como os Estados Unidos, que na quarta-feira anunciaram a nomeação de uma nova embaixadora na nação africana.
A eleição do presidente Bazoum em 2021 foi um momento crucial para o Níger, já que representou a primeira transferência pacífica de poder desde sua independência da França em 1960. No entanto, desde o golpe, Bazoum está retido em sua residência junto com sua esposa e filho.
"As condições de detenção do presidente Bazoum estão se deteriorando. Qualquer agravamento em seu estado de saúde terá consequências graves", advertiu o presidente da Nigéria, Bola Tinubu, em uma conversa com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
Uma autoridade da União Europeia (UE) indicou que Michel reiterou "o total apoio da UE às decisões da Cedeao, bem como a firme condenação do golpe de força inaceitável no Níger".
"A UE não reconhecerá as autoridades resultantes do golpe. O presidente Bazoum, eleito democraticamente, continua sendo o chefe de Estado legítimo do Níger", enfatizou.
De Genebra, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, expressou preocupação com a decisão dos militares de processar o presidente Bazoum e seus colaboradores por alta traição.
"Essa decisão não apenas tem motivações políticas contra um presidente democraticamente eleito, mas também carece de base legal, uma vez que o funcionamento normal das instituições democráticas foi impedido", afirmou em comunicado.
Em entrevista ao The New York Times, o primeiro-ministro nomeado pelos militares, Ali Mahaman Lamine Zeine, disse que "nada acontecerá" com o presidente. "Não temos uma tradição de violência no Níger", acrescentou.
Também garantiu que os militares nigerinos não tinham qualquer intenção de colaborar com a Rússia ou com o grupo paramilitar russo Wagner, como fizeram os golpistas no vizinho Mali.
No entanto, pelo menos 28 civis morreram no início da semana em episódios de violência em várias cidades do sudoeste do Níger, perto da fronteira com o Mali, indicaram nesta sexta-feira várias fontes à AFP.
* AFP